Tuesday, September 20, 2011

De filha....pra Pai

Meu último post foi um relato sobre o meu primeiro aniversário na Noruega, sobre como aproveitei meu dia aqui em Oslo apesar da saudade do Brasil, da família e dos amigos brasileiros. Esse post continua falando sobre aniversário, mas sob uma nova perspectiva: estar longe quando alguém muito especial no Brasil está fazendo a travessia da nova idade. Estou tendo hoje a experiência de, pela primeira vez, não estar perto do meu pai no dia do seu aniversário. E confesso: está sendo mais difícil do que o dia do meu próprio aniversário. Quando é você quem está longe de todo mundo, você tenta compensar com outras coisas: as novas companhias, as novas programações, as novas possibilidades. Mas e quando a pessoa que faz aninversário está longe de você, como se faz? Estou aceitando sugestões para os próximos que irei passar, mas a solução que encontrei pra diminuir a tristeza de hoje foi ESCREVER. Escrevendo alivio a minha saudade e deixo aqui registrada minha homenagem a uma das pessoas mais importantes da minha vida.

Quem convive comigo e com minha família não teria dúvida em dizer que eu sou super parecida com minha mãe. E sou mesmo: meio invocada, tagarela, exigente, desbocada, pequenininha, sensível e firme ao mesmo tempo. Mas nos últimos anos, tenho descoberto que tenho muitas características do meu pai que até então nem imaginava que tinha e, mais ainda, que aquelas que eu não tenho, eu queria muito desenvolver em mim. Isso significa que nos últimos anos tenho aprendido a admirar ainda mais meu pai.

Seu Bira faz hoje 60 anos e, com orgulho, eu digo que nos 29 anos que eu participei dessa trajetória não me lembro dele levantando a voz para alguém. Também não me lembro de ouvi-lo dizer que odeia uma pessoa. Tirando que a gente NUNCA fecha a coca cola direito, não me lembro de ele fazer grandes reclamações da vida. Aliás, ele passou 4 meses numa cadeira de rodas devido a um acidente e eu não lembro dele reclamando. Acho que em alguns momentos eu pensava que ele podia reagir mais, falar mais, reclamar mais (talvez porque eu faça tudo isso). Mas hoje, quase nos meus 30 anos (falta um ano ainda), tenho procurado aprender com ele que muitas vezes é preciso falar menos, e que reagir nem sempre significa brigar e falar alto. Meu pai reage com serenidade, com sabedoria, com tranquilidade, com paciência. O coração dele é tão bom, tão cheio de luz e de caridade que eu às vezes não consigo acompanhar tamanha grandiosidade, mas consigo sim admirar!

É por isso, pai, que você merece os parabéns, não só por ter nascido, mas por ser quem você é. Não tenho dúvidas de que há 60 anos o mundo passou a ficar melhor, mais generoso, menos raivoso. Você merece parabéns porque pessoas como você são uma raridade e uma benção. Você merece parabéns pela paciência constante mesmo diante de tantos fatos tristes que você teve que passar na sua vida. Você merece parabéns por saber olhar para o que as pessoas e o mundo têm de bom, e por saber sorrir mesmo diante de momentos difíceis. Você merece os parabéns pelo filho, irmão, amigo, marido, pai e avó que você sempre foi. Você merece parabéns pelo ser humano que é.

Não estou falando de um exemplo de perfeição, até porque ela não é algo possível para nós. Mas estou falando de um exemplo de evolução e de uma pessoa que se tornou pra mim o homem mais incrível do mundo.

Sinta meu beijo, meu abraço e meu amor, afinal, os meus pensamentos hoje atravessaram o oceano.

"Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois que é a alma quem pensa" (Allan Kardec - O livro do Espíritos)


Feliz Aniversário! E espero ver você usando essa camisa aqui comigo em Oslo pra gente tomar uma cerveja norueguesa :)


Monday, September 19, 2011

Dos 28....aos 29

Semana passada, mais especificamente dia 14 de setembro, eu conclui e comecei uma nova travessia. Fechei um ano e comecei um novo. Eu sou daquelas que adora a travessia dos aniversários. Pra mim cada aniversário tem de fato a simbologia de um (re)nascimento. É dia de celebrar a vida e de agradecer pelas conquistas daquele ano. Acho aniversário meio como ano novo, só que é um ano novo individual. Todo 14 de setembro eu comemoro minha virada de ano particular.

Esse ano, a virada foi bem diferente de todas que eu já vivi. Pela primeira vez atravessei para a nova idade longe do meu país, longe dos meus pais, da minha irmã e da maior parte dos meu amigos. Foi meu primeiro aniversário na Noruega. Meu primeiro aniversário na minha primeira casa junto com Léo. Com tanto pioneirismo, não tinha como o aniversário não ser, no mínimo, interessante. Mas o pioneirismo também assusta e causa um certo estranhamento, e acho que foi por isso que acordei, no dia 14 de setembro, ainda com a sensação de que não era meu aniversário.

Mas o estranhamento e a nostalgia começaram a se transformar em grandes surpresas. Depois de alguns dias de muita chuva em Oslo, 14 de setembro começou com um lindo dia de Sol: Luz, renascimento, vida. E não é a luz que faz a gente olhar melhor os detalhes de uma situação? Pois então tentei amenizar a saudade pensando em como, literalmente, a nova idade chegava em um momento iluminado da minha vida, a começar por poder comemorar ao lado de Léo, já que há dois anos eu não passava meu aniversário com ele. E tenho que confessar que ele caprichou nesse! Começamos com um delicioso café da manhã, preparado por ele, e um presente bastante significativo para o momento: um quadro com uma foto nossa para colocarmos na nossa casa. A foto foi tirada em Minas nas nossas férias de julho e é uma foto bem viajada! A gente gosta de uma viagem e de inovar! Olha a foto do quadro aí:



Bom, como meu aniversário não caiu num sábado ou domingo, fui pra Universidade, mas confesso que o dia não foi muito produtivo em termos de trabalho. Exigente que eu sou, comecei a ficar agoniada porque não conseguia me concentrar. Ficava mais agoniada porque o dia estava lindo e eu queria era ir pra rua. E aí, no meio de toda essa agonia, recebo um e mail de uma tia de léo (Ângela) com uma reflexão interessante:


"Pelo menos hoje,
só faça o que lhe der prazer,
o que lhe "der na telha".
Curta bem o seu dia: faça dele um feriado nacional! 
Afinal, 14 de setembro só tem uma vez no ano".

Foi uma Luz! Era tudo que eu precisava ler pra relaxar e curtir o meu dia! E aí, minha colega de doutorado dinamarquesa, Bettina, me convidou para um almoço de aniversário e tivemos ótimas conversas juntas. Bettina tem sido uma pessoa essencial no meu processo de adaptação. Uma pessoa simpática e sempre disponível em me ajudar. Nesse dia, pude sentir ainda mais como estamos construindo uma ótima relação. E a Luz surgiu de novo: eu estou longe de tanta gente, mas não estou sozinha aqui. Estou fazendo amigos e construindo uma rotina nova e interessante. Um registro do meu almoço com Bettina:



Bom, mas já que era "feriado" pra mim, fui aproveitar meu dia com minhas amigas brasileiras Sandra e Lorena. No início, a ideia era tomar um café, programa bem típico aqui na Noruega, mas o dia estava convidativo para um bom vinho ao Sol. Acho ótima essa ideia de tomar vinho esparramada ao Sol. Quem pega um inverno brabo, sabe bem como essa simples ação é uma delícia. E foi realmente muito bom, ainda mais com a companhia de duas pessoas que tem sido importantes pra mim aqui em Oslo. Luz de novo: eu tenho amigas aqui! Quer maior presente de aniversário? Aí estão algumas imagens da nossa tarde de aniversário em um dia lindo de sol em terras nórdicas:





Léo saiu do trabalho mais cedo pra aproveitar o dia comigo e compartilhou um pouco do nosso momento "vinho ao sol":



Nossa programação era jantar em algum lugar depois. Eu ainda não sabia em qual restaurante, mas ele já tinha preparado uma surpresa: fez uma reserva num lugar especial e não disse onde era. E aí, sem saber pra onde eu estava indo, eu andei, peguei ônibus, peguei barco pra chegar num restaurante em Bygdoy, uma praia de Oslo que fica no meio de alguns fjordes pequenos (depois faço um post sobre os fjordes). O cenário era um espetáculo. As imagens falam por si só:


As imagens praticamente dispensam comentários, mas eu preciso dizer que Léo foi um dos grandes responsáveis por tranformar um aniversário que tinha tudo pra ser nostálgico num aniversário de ótimos momentos. 

A saudade do Brasil? Continuava imensa. Sentia falta de tantos abraços, de tantos beijos, de tantas vozes. Mas o Brasil veio até a Noruega por meio de várias mensagens no facebook, e mails, ligações da família (pai, mãe, irmã) e de alguns amigos (valeu Mel, May e Ju), e de um parabéns ao vivo via skype do meu grupo de pesquisa querido no Brasil. Um grupo de amigos e de companheiros de trabalho que são uma fonte de inspiração pra mim. O parabéns foi registrado por Léo:


E o dia terminou com os parabéns da mãe e do pai, os "culpados" por esse dia. Os responsáveis pelo maior presente que eu tenho: minha vida. E uma vida de muito amor e de muitas alegrias. Minha maior saudade foi deles, mas o amor é tão incondicional que eu consegui senti-los bem perto de mim.

Pela saudade da minha família, do meu país e de tantos amigos, não posso dizer que meu aniversário foi perfeito. Mas também acho que nunca foi, pois sempre tem a falta de alguém, afinal, aos 29 anos boa parte dos nossos amigos e família encontram-se espalhados pelo mundo. Mas apesar dessa falta, praticamente inevitável, eu tive um dia muito feliz e de muitas certezas: certeza que tenho um companheiro incrível ao meu lado, certeza de que estou construindo amizades fortes aqui na Noruega, certeza que os amigos de verdade se fazem presente mesmo à distância, certeza de que minha família continua sendo meu maior porto seguro. 

Tem como ficar triste com tudo isso? Só tenho a agradecer por tanta Luz...e que ela continue comigo na travessia até os 30....


Tuesday, September 13, 2011

Do Brasil....para a Noruega

Quando as pessoas me perguntam o que estou fazendo na Noruega, e eu digo que estou fazendo meu doutorado, a resposta mais comum é: que chique! É, de certa forma, é chique, mas nos bastidores, poucos sabem a luta que foi pra esse doutorado sair. Entre a decisão de querer fazer o doutorado fora do país e o dia em que recebi a notícia do "sim, você conseguiu", a travessia foi árdua e muitos "nãos" foram escutados e chorados.

Esse post será pra compartilhar um pouco a primeira grande travessia que eu precisei fazer rumo ao meu Doutorado: a decisão de estudar fora e, mais especificamente, na Noruega. Sim, o ato de decidir é por si só uma travessia imensa e misteriosa.

Desde o meu mestrado, quando eu já tinha uma forte identificação com a área acadêmica, e já estava em análise há um certo tempo, eu comecei a ter clareza do meu desejo de ter essa experiência fora do país. Mas, por que? Não tem doutorado bom no Brasil na minha área de pesquisa (psicologia do desenvolvimento)? Pelo contrário, temos muitos grupos de pesquisa consolidados, a começar pelo que eu faço parte (continuo fazendo parte mesmo estando aqui em Oslo), o Labint, na UFPE. O Brasil, nos últimos tempos, tem avançado muito nessa área, e não foi por falta de opção de grupos de pesquisa bons no país que eu decidi estudar fora. Também não foi porque eu não gosto do Brasil. Sou brasileira com orgulho e carrego comigo as raízes de uma cultura forte e contagiante.

É difícil tentar resumir o que me levou a essa decisão, afinal, grandes decisões, na maioria das vezes, estão baseadas em um grande número de fatores. Mas tentando sintetizar, eu queria conhecer o diferente. E esse desejo pelo diferente é em grande parte fruto da minha experiência na graduação. Além da Psicologia nos estimular a pensar sobre a diferença que nos constitui, minha turma foi um exemplo de pluralidade. Mais ainda, um exemplo que é na diversidade que crescemos. Não foi à toa o nome que selou nossa graduação: "O Igual da Diferença. Cada um, todo ser tem sua crença" (Lenine). A convivência com Léo, que começou exatamente na época do meu mestrado, só fez reforçar esse desejo. Quem conhece ele sabe: cidadão do mundo, louco por viagem, louco pela novidade e corajoso pra encarar e viver a diferença.

Acho que por isso, eu não queria que a diferença fosse só no âmbito profissional, mas também no plano cultural. Queria o novo, que com certeza seria melhor que o Brasil em alguns aspectos e piores em outros. Queria a diferença. Queria ir pra um lugar que me deixasse mais fluente no inglês e que eu pudesse ter a vivência de hábitos de vida mais diferentes e, principalmente, mais saudáveis. A Europa sempre foi o continente que mais me interessou: pela variedade cultural, por uma postura ativa em questões sociais e pelo estilo de vida mais equilibrado, que busca conciliar  trabalho e vida pessoal (isso é assunto pra outro post).

Ok, mas por que a Noruega? Parando pra pensar agora, vejo que nessa decisão eu já comecei a buscar um equilíbrio entre o profissional e pessoal. De início, meu interesse era pela Alemanha. Mais especificamente pelo Instituto de Pesquisa Max Planck (http://www.eva.mpg.de/), que vem inspirando as pesquisas que tenho realizado no Brasil. Porém, Léo, que também tinha o interesse em morar um tempo fora do país (óbvio!), foi selecionado para uma vaga na Nokia em Oslo. E aí, eu comecei a procurar por oportunidades na Noruega, numa tentativa de atender meu desejo de fazer meu Doutorado na Europa e meu desejo de ficar junto de Léo.

Acho que esse processo de decidir pela Noruega e focar em possibilidades concretas aqui foi o primeiro grande passo de um longo percurso. Hoje, tenho a certeza que foi a melhor decisão. Não estou aqui apenas pra acompanhar Léo e não estou aqui apenas pelo Doutorado. Já na decisão, comecei a vivenciar o quanto é bom o tal do equilíbrio. E às vezes, para alcançá-lo, é precisor abrir mão de algumas coisas. O aprendizado está em perceber que, a cada decisão em que precisamos abrir mão de uma primeira opção, nossas mãos ficam livres pra receber um tanto de outras oportunidades...é só ficar atento durante a travessia....Que continua nos próximos posts...


Monday, September 5, 2011

Do início...da travessia...

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos" Fernando Pessoa.

O primeiro post desse blog tinha que começar com essas palavras de Fernando Pessoa. Palavras que li numa agência de viagem quando estava comprando minha passagem para a Noruega. Uma passagem tão sonhada, tão desejada, tão lutada. Passagem de viagem. Passagem de mudança. Passagem de travessia. Ao atravessar o oceano, eu estaria dando início a uma nova vida para realizar um antigo sonho. Mas não era "só" o oceano que eu tinha que atravessar. A travessia mais dura, e ao mesmo tempo mais prazerosa, é a travessia de sair da zona de conforto e ir em busca do novo: casa nova, trabalho novo, língua nova, cidade nova, país novo, vida nova! É tudo muito lindo e poético se olharmos apenas pro ponto final: morar na Europa e conseguir o título de doutora em Psicologia. Mas não é lá no ponto final que as coisas acontecem; elas acontecem na travessia, e esta não é fácil, embora (ou talvez por isso mesmo) seja igualmente (ou mais) poética que a chegada!

Quando li a frase de Fernando Pessoa senti que tinha acabado de resolver o problema que estava discutindo com minha amiga Patrícia Castro: o nome do meu blog. Afinal, esse será um espaço para relatar e compartilhar muitas das travessias que realizei, estou realizando e irei realizar. Um espaço sobre a minha vivência na Noruega: estudo, amor, descobertas, farras, desafios, dificuldades, curiosidades culturais, desabafos. Travessias e travessuras em terras nórdicas. Porque é realmente no meio do caminho que as coisas acontecem...

Esse primeiro post é dedicado a Cintia Anira e Marina Vilar que, ao viverem a experiência de morar fora do país, me incentivaram a começar um blog. Valeu o incentivo. Já estou começando a gostar :)