Tuesday, September 13, 2011

Do Brasil....para a Noruega

Quando as pessoas me perguntam o que estou fazendo na Noruega, e eu digo que estou fazendo meu doutorado, a resposta mais comum é: que chique! É, de certa forma, é chique, mas nos bastidores, poucos sabem a luta que foi pra esse doutorado sair. Entre a decisão de querer fazer o doutorado fora do país e o dia em que recebi a notícia do "sim, você conseguiu", a travessia foi árdua e muitos "nãos" foram escutados e chorados.

Esse post será pra compartilhar um pouco a primeira grande travessia que eu precisei fazer rumo ao meu Doutorado: a decisão de estudar fora e, mais especificamente, na Noruega. Sim, o ato de decidir é por si só uma travessia imensa e misteriosa.

Desde o meu mestrado, quando eu já tinha uma forte identificação com a área acadêmica, e já estava em análise há um certo tempo, eu comecei a ter clareza do meu desejo de ter essa experiência fora do país. Mas, por que? Não tem doutorado bom no Brasil na minha área de pesquisa (psicologia do desenvolvimento)? Pelo contrário, temos muitos grupos de pesquisa consolidados, a começar pelo que eu faço parte (continuo fazendo parte mesmo estando aqui em Oslo), o Labint, na UFPE. O Brasil, nos últimos tempos, tem avançado muito nessa área, e não foi por falta de opção de grupos de pesquisa bons no país que eu decidi estudar fora. Também não foi porque eu não gosto do Brasil. Sou brasileira com orgulho e carrego comigo as raízes de uma cultura forte e contagiante.

É difícil tentar resumir o que me levou a essa decisão, afinal, grandes decisões, na maioria das vezes, estão baseadas em um grande número de fatores. Mas tentando sintetizar, eu queria conhecer o diferente. E esse desejo pelo diferente é em grande parte fruto da minha experiência na graduação. Além da Psicologia nos estimular a pensar sobre a diferença que nos constitui, minha turma foi um exemplo de pluralidade. Mais ainda, um exemplo que é na diversidade que crescemos. Não foi à toa o nome que selou nossa graduação: "O Igual da Diferença. Cada um, todo ser tem sua crença" (Lenine). A convivência com Léo, que começou exatamente na época do meu mestrado, só fez reforçar esse desejo. Quem conhece ele sabe: cidadão do mundo, louco por viagem, louco pela novidade e corajoso pra encarar e viver a diferença.

Acho que por isso, eu não queria que a diferença fosse só no âmbito profissional, mas também no plano cultural. Queria o novo, que com certeza seria melhor que o Brasil em alguns aspectos e piores em outros. Queria a diferença. Queria ir pra um lugar que me deixasse mais fluente no inglês e que eu pudesse ter a vivência de hábitos de vida mais diferentes e, principalmente, mais saudáveis. A Europa sempre foi o continente que mais me interessou: pela variedade cultural, por uma postura ativa em questões sociais e pelo estilo de vida mais equilibrado, que busca conciliar  trabalho e vida pessoal (isso é assunto pra outro post).

Ok, mas por que a Noruega? Parando pra pensar agora, vejo que nessa decisão eu já comecei a buscar um equilíbrio entre o profissional e pessoal. De início, meu interesse era pela Alemanha. Mais especificamente pelo Instituto de Pesquisa Max Planck (http://www.eva.mpg.de/), que vem inspirando as pesquisas que tenho realizado no Brasil. Porém, Léo, que também tinha o interesse em morar um tempo fora do país (óbvio!), foi selecionado para uma vaga na Nokia em Oslo. E aí, eu comecei a procurar por oportunidades na Noruega, numa tentativa de atender meu desejo de fazer meu Doutorado na Europa e meu desejo de ficar junto de Léo.

Acho que esse processo de decidir pela Noruega e focar em possibilidades concretas aqui foi o primeiro grande passo de um longo percurso. Hoje, tenho a certeza que foi a melhor decisão. Não estou aqui apenas pra acompanhar Léo e não estou aqui apenas pelo Doutorado. Já na decisão, comecei a vivenciar o quanto é bom o tal do equilíbrio. E às vezes, para alcançá-lo, é precisor abrir mão de algumas coisas. O aprendizado está em perceber que, a cada decisão em que precisamos abrir mão de uma primeira opção, nossas mãos ficam livres pra receber um tanto de outras oportunidades...é só ficar atento durante a travessia....Que continua nos próximos posts...


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