Tuesday, July 30, 2013

Do tempo de aprender sobre o tempo...

No post passado, comecei a falar sobre o tempo:  o tempo enquanto clima, o tempo para escrever o blog, meu tempo na Noruega, sobre o aprendizado de saber melhor dividir o tempo. Acho que agora preciso detalhar melhor porque danado esses "tempos" inteferem tanto na vida no país nórdico. 

Eu começaria dizendo que viver na Noruega exige um aprendizado sobre gerir e se adaptar ao tempo. 

Comecemos pelo tempo enquanto clima. Num lugar em que quase metade do ano é inverno e que o verão é completamente incerto - pode ser maravilhoso (como este ano) ou pode ser uma porcaria (como ano passado) - as pessoas acabam planejando suas atividades com base no clima. Checar a previsão e falar sobre ela são ações comuns por aqui, e uma vez que o Sol aperece: rua! Está trablhando num dia de Sol? Sai mais cedo e vai pro parque, pra praia ou trabalha ao ar livre (óbvio que nem todas as profissões permitem essa flexibilidade). O fato é que aqui, embora os dias quentes e com sol sejam raros, a gente aprende a super aproveitá-los. Acho que a gente super aproveita tanto que começamos a fazer certas coisas que antes achávamos estranho, como por exemplo ficar olhando pro sol enquanto espera o ônibus e comer ao ar livre. No meu caso que venho de uma cidade super quente como Recife, eu costumava fugir do sol na parada de ônibus e comer em lugares com ar condicionado. E trabalhar em dias de Sol não era um problema grande, afinal, eu o tinha a maior parte do ano. Sem dúvida, minha relação com o clima mudou significativamente desde que eu cheguei aqui: quando se tem pouco é preciso super aproveitar o que se tem!

Mais ainda, é preciso aproveitar o tempo/clima mesmo quando não estamos no verão. A principal filosofia aqui é: "não existe tempo ruim para quem tem roupa adequada". Logo, coloque seu casaco de chuva ou seu casaco pra aguentar -20 graus e saia de casa. E isso se aprende desde cedo. As crianças no Barnehagen (creche, em norueguês) vão para a área externa todos os dias, faça chuva ou faça sol, faça -20 graus ou 25 graus.

E para super aproveitar o que cada clima tem de bom, precisamos aprender a gerir também o nosso tempo enquanto horário diário. Tempo para o trabalho e tempo para a vida pessoal precisam ser muito bem administrados, caso contrário o trabalho não anda e a casa fica uma zona. Isso porque aqui funcionamos self-service full time. Nada de empregadas domésticas, babás ou mesmo delivery para entregar a comida pronta em casa. A velha frase "eu não tenho tempo, por isso terceirizo esses serviços" não é muito ouvida por aqui, a não ser que você queira e possa pagar um valor altíssimo (o que é bem merecido) para alguém limpar sua casa ou fazer sua comida. Divisão de responsabilidades entre o casal e boa divisão entre o tempo dedicado ao trabalho e à vida pessoal são componentes essenciais para dar conta das atividades e ter tempo para aproveitar o clima quando ele está bom :) Em um outro post vou aprofundar nas questões de gênero e desse equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional.

O fato é que seja o tempo clima, seja o tempo enquanto horário diário, ou você se adapta e aprende a gerenciá-lo ou você literalmente perde muito tempo esperando pelo ideal...Ou o ideal seria mesmo saber transformar qualquer tempo em um bom tempo?

"Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo..."
Renato Russo



Sunday, July 21, 2013

Do tempo

Depois de uma ausência de mais de um ano, eis que volto a escrever no blog. O porquê do sumiço? Ainda não sei responder, mas quem sabe retomando a escrita eu consiga identificar o motivo do silêncio. Digo silêncio exterior, porque interiormente o barulho continua alto.

Consigo ao menos identificar o motivo do retorno ao blog: o verão! Acho que posso dizer que estou vivendo meu primeiro verão na Noruega, já que ano passado tivemos um verão de muita chuva, e esse "primeiro" verão de verdade voltou a me fazer refletir sobre um dos assuntos mais constantes nos círculos de conversa na Noruega: o tempo e o clima (aliás, já escrevi inclusive sobre a escuridão norueguesa do mês de novembro). E pensar sobre o tempo e o clima na Noruega me fizeram pensar  também no meu tempo na e com a Noruega. E tudo isso me fez questionar: por que eu não estou escrevendo essa tempestade de ideias e experiências no blog? Seria falta de tempo? Mas saber dividir e aproveitar bem o tempo não tem sido um dos grandes aprendizados em terras nórdicas? Acho que está na hora de colocá-lo em prática e arranjar tempo para escrever no blog!

Se foi a suposta falta de tempo o motivo do sumiço, também foi ele que me fez retornar. Em agosto, eu completo 2 anos em terras norueguesas. Muitas percepções mudaram, muitas amizades surgiram, muitos aprendizados se consolidaram e, sem dúvidas, um dos maiores foi que "não existe tempo ruim para quem tem roupa adequada!"

Então, faça chuva ou faça sol, o blog estará na ativa. Afinal, Navegar é preciso. Escrever também. Em qualquer tempo e em qualquer lugar...

                                                                Oslo Fjord - Verão 2013

Sunday, May 13, 2012

De filha para mãe: porque é ela quem me acompanha nas maiores travessias e travessuras

Depois de abandonar o blog por 5 meses, nada mais justo do que recomeçá-lo hoje, 13 de maio de 212, dia das mães. Afinal, é ela quem me proporciona, me encoraja e me acompanha nas maiores travessias e travessuras da minha vida: Dona Katia, minha mãe, ou em bom pernambucanês, mainha. Esse post é pra senhora.

Na verdade, nada que eu diga aqui será novidade, nem pra ela nem pra ninguém que me conhece. Mas os sentimentos podem ser sempre relembrados, reforçados, realimentados. Aliás, esse tem sido sempre o maior aprendizado que recebo da minha mãe: ame e não tenha medo, nem vergonha, de demonstrar seu amor. Minha mãe ama intensamente, a típica mãe-leoa, e esse amor vem alimentando minha vida por quase 30 anos. Quem conhece minha mãe sabe que minha mudança pra Noruega seria uma destruição emocional pra ela, já que ela  literalmente gosta de ter as crias debaixo de suas asas. Mas Dona Katia se supera! Ela não se destruiu quando eu me mudei pra Noruega, ela me fortificou (e se fortificou), porque ela ama, protege, super-protege muitas vezes, mima demais, mas ela pensa na felicidade das filhas. Eu sei o quanto foi difícil pra ela ver minha mudança, mas eu tinha certeza que o amor dela é o amor que quer o bem, que quer o crescimento do outro. A maior lição que carrego comigo nessa minha experiência fora do Brasil veio dela. Perto do momento do embarque, no meio das lágrimas, ela me disse: "estou feliz porque você está indo. E uma dica: não tente achar o Brasil na Noruega". Palavras sábias de uma mãe que nunca morou fora, praticamente não viaja, mas que no amor de mãe encontra o conhecimento pra dizer: "aproveite o que a Noruega tem de bom, e eu estou sempre aqui com e por você!"

E a senhora sempre estará comigo, mainha, não importa a distância. O bom porto seguro é aquele que promove a liberdade do outro, e assim, o outro sempre volta, sempre se faz presente; porque é um amor que liberta e não que prende. Eu tenho esse porto seguro na senhora. Eu ainda não sou mãe e muitas coisas eu ainda não devo entender. Mas eu sou filha e, como filha, eu agradeço todos os dias por ter uma mãe como a senhora; agradeço pela vida que a senhora me deu e agradeço por todo cuidado, amor, amizade e companheirismo. 

E, especialmente nesse momento, obrigada por me deixar voar! O voo tem sido mais leve e feliz pois eu sei que meu porto seguro está aqui feliz por mim e sempre de braços abertos a cada retorno!

Amo você incondicionalmente! Feliz dia das mães!


Sunday, December 4, 2011

Dos milhões de aprendizados...ao aprendizado espiritual

Quando eu decidi morar um tempo na Europa, minhas grandes motivações estavam centradas nas esferas profissional, pessoal e cultural. O post do dia 13 de setembro fala um pouco sobre essas motivações. Contudo, esses primeiros meses aqui têm me feito ter certeza que meu aprendizado e crescimento na Noruega estão relacionados também a outra dimensão: meu aprimoramento espiritual.

Apesar de ter sido batizada e ter feito primeira comunhão, não posso dizer que tive uma criação católica de fato. Acho que esses momentos foram muito mais frutos de um ato social e religioso comum no Brasil do que devido à crença religiosa dos meus pais. Na realidade, via meus pais exercendo a fé e alguns princípios do Cristianismo de uma maneira prática e diária, mas não como adeptos de nenhuma igreja. Em torno dos 15 anos, eu acho, eu comecei a frequentar centro espírita com meu pai, que se tornou pra mim um grande incentivador da leitura das obras de Allan Kardec e de Chico Xavier. Me identifiquei com a Doutrina e, principalmente quando morei em Minas Gerais, passei a frequentar o centro com uma certa assiduidade. Embora sem ter me dedicado com afinco ao estudo da Doutrina, acho que foi em Minas que passei a me denominar uma espírita.

Voltando pra Recife, e começando a faculdade de Psicologia, me afastei bastante do Espiritismo. Acho que quem é ou foi estudante de Psicologia entende um pouco o que isso significa. A vida acadêmica tende a colocar as pessoas em constante questionamento a respeito da fé, uma vez que, historicamente e socialmente, conhecimento científico e religião foram concebidos como domínios opostos e incompatíveis. Um parêntese aqui, embora a maioria defina o Espiritismo como uma religião, ele pertence muito mais ao âmbito de uma Doutrina ou de uma Filosofia.  Segundo o próprio Kardec, se você entende religião como a prática da fé, o Espiritismo pode ser considerado como religião, mas se esta é definida por ritos e normas, o Espiritismo não pode ser enquadrado como tal. É nesse sentido que os centros espíritas não funcionam baseado em ritos mas em estudos que visam a compreensão do mundo espírita e da prática cristã em nossas atividades diárias.

Bom, mas deixa eu voltar ao momento do meu afastamento do Espiritismo. No caso da Psicologia em específico, uma vez que estudamos as diferentes facetas do comportamento humano, inclusive o papel da religião na constituição de nossa identidade, muitas vezes somos colocados diante de novas explicações outrora encontradas apenas no conhecimento religioso. Para mim, essa experiência acarretou um afastamento da minha fé e um foco extremamente forte na dita lógica científica. Avaliando hoje, acho que esse afastamento teve muitos pontos positivos. Acho que consegui me abrir mais para a lógica construída pela psicologia, consegui enxergar certas coisas até então pouco compreensíveis e construí um bom senso crítico diante de coisas que costumava aceitar sem muita reflexão. O fato é que terminei o curso com a sensação de que ciência e fé eram coisas realmente inconciliáveis.

Não sei precisar quando eu comecei a rever essa ideia de incompatibilidade entre os dois domínios, mas gostaria de enfatizar como a Noruega vem contribuindo para eu reencontrar minha fé e, principalmente, para eu entender que ser psicóloga e espírita não são coisas contraditórias. É engraçado eu começar a ter mais clareza disso aqui na Noruega, um país de tradição pouco religiosa e onde a maioria não sabe nem o que é o Espiritismo. Muitos nunca ouviram nem falar.

Uma pesquisa realizada em 2006 indica que quase 70% dos noruegueses são ateus. Entre aqueles que possuem alguma fé ou crença religiosa, a maioria é Protestante, embora muitos não frequentem com assiduidade as igrejas. O site do Consulado da Noruega no Brasil fala um pouco mais sobre a religião no país.  O fato é que, seguindo a cultura local, eu tinha tudo para me afastar ainda mais do espiritismo. O que contribuiu então para o caminho inverso?

Acho que em primeiro lugar, e talvez contraditoriamente, a própria cultura norueguesa ajudou bastante. Digo isso porque aqui o ritmo de trabalho é mais tranquilo e as pessoas procuram ter um maior equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal (preciso fazer um post sobre isso também). Tentando entrar nesse estilo de vida norueguês, eu comecei a construir uma rotina em que eu tivesse, literalmente, mais tempo para mim, minhas leituras, meu crescimento pessoal. Se um dos motivos das pessoas não fazerem isso é a falta de tempo, aqui eu não tinha muito essa desculpa.

O segundo ponto foi que a mudança em si tende a dar um nó na cabeça da gente, faz a gente questionar um tanto de coisa, e aquela velha pergunta "o que danado eu tô fazendo aqui?" não parava de apitar em meus pensamentos. Acho que a mudança de país, de cultura, de estilo de vida impulsionam também uma mudança mais interior. Eu poderia ter feito essa mudança recorrendo a vários recursos diferentes, e eu não sei explicar exatamente porque, mas eu resolvi procurar um centro espírita. Decisão quase fadada ao fracasso dada a alta probabilidade de eu não encontrar um centro em Oslo.

Mas eis que acontecem aqueles fatos e aqueles encontros que mudam toda a história. Em conversa com um amigo brasileiro, que eu não sabia que era espírita, comentei, assim como quem não quer nada (e talvez nem quisesse mesmo), que eu queria encontrar um centro espírita em Oslo. "Poderia ser inglês", eu disse. A resposta que ouvi do meu amigo Leandro foi: "serve um brasileiro? Reunião quarta-feira. Bora?". Se não existia a falta de tempo e a suposta dificuldade de achar um centro aqui na Noruega estava resolvida, parecia que era a hora mesmo de tentar de novo. 

"Achei um Centro Espírita, painho". Foi a notícia que dei àquele que, como bom espírita, assistiu meu afastamento da doutrina sem me julgar ou me "converter", respeitando meu livre arbítrio. Hoje, escrevendo esse texto, eu tenho dúvida se eu achei de fato o GEEAK-Norge ou se eles me acharam. Estou me lembrando aqui que eu não procurei nada na internet, mas num comentário de mesa de bar, ele surgiu. Mas a decisão foi minha de aceitar o convite e ir ao seu encontro.

O GEEAK, Grupo de Estudos Espíritas Allan Kardec, foi fundado em Oslo por brasileiros em 1993, numa época em que a imigração brasileira aqui era quase nula. Com a chegada de mais brasileiros o grupo foi crescendo, e hoje seu maior desafio é oferecer seus serviços na língua norueguesa para que a população local possa ter mais informações a respeito do espiritismo. 

O GEEAK tem sido uma família pra mim. Uma família grande, iluminada, enriquecedora. Como o grupo é pequeno, seu funcionamento ocorre predominantemente com base em grupos de estudo, um formato que me agrada mais do que as reuniões em estilo palestra, pois permite uma maior dinamicidade e, consequentemente, um maior aprendizado. Atualmente, estou trabalhando na casa como uma das facilitadoras do grupo de estudo sobre o Livro dos Espíritos. Ontem, por exemplo, ocorreu o primeiro Encontro de Grupos Espíritas da Noruega e foi um momento importante onde pudemos discutir um pouco sobre o Espiritismo na Noruega e os desafios dos grupos espíritas nos países nórdicos.

Em outro post, escrevo mais sobre como é o Espiritismo na Escandinávia. Mas, qual o objetivo desse post mesmo? Primeiro é bom dizer o que ele não é: não é a procura de dizer que o Espiritismo está acima de qualquer outra crença nem instigar um debate religioso sobre a existência ou não de Deus. O post é mais a consequência de umas reflexões que tenho feito bastante nos últimos dias, em especial depois do Encontro de ontem: minhas razões em morar na Noruega estão muito mais além do que eu imaginava. Não bastasse tanto crescimento cultural, pessoal e profissional, estou tendo a oportunidade de viver uma excelente experiência de aprimoramento espiritual que merece ser compartilhada e agradecida. Além disso, como fonte de informação, fica a dica da existência de um Grupo Espírita em Oslo para os interessados em conhecer mais e/ou participar das atividades. Afinal, é o livro arbítrio que nos conduz a certas escolhas e nos responsabiliza por elas. Eu fiz a minha e o GEEAK a acolheu. Que a gente possa crescer juntos com todas as responsabilidades que isso envolve.

Ps: painho, obrigada por ser um exemplo da boa prática espírita e, principalmente, obrigada por respeitar meu afastamento, foi a melhor forma de me trazer de volta ao espiritismo.

"Sem o livre arbítrio há fatalidade, e com a fatalidade não existiria a co-responsabilidade" (Allan Kardec, O Céu e o Inferno)


Sunday, November 13, 2011

Do Outono...para o Inverno

Novembro chegou. E para os noruegueses, isso significa que chegou o mês mais difícil do ano. Sempre que  eu falo que eu sou brasileira, a pergunta mais comum é: já conhece o inverno norueguês? Minha resposta é que sim, pois já passei três meses aqui esse ano, de fevereiro a abril. Vi muita neve e peguei -23 graus. Isso é conhecer o inverno, não é? Sim, isso é conhecer uma parte dele, mas eu ainda não havia conhecido a outra parte: o inverno sem neve e a escuridão típica do mês de novembro. E agora, depois de quase 15 dias conhecendo esse lado mais negro do inverno, posso ter certeza de uma coisa: a falta de sol é muito pior do que as temperaturas baixas.

Eu já tinha ouvido Léo fazer essa mesma avaliação, mas confesso que sem viver a experiência, eu não conseguia entendê-la muito bem. Era difícil imaginar que existia algo pior do que uma temperatura de -20. Acho que no fundo é difícil para uma pernambucana, abençoada com temperaturas elevadas e muito Sol durante quase todo ano, entender o impacto da falta de luz solar. Sabe aquele clichê "a gente só dá valor quando perde"? Aplica-se perfeitamente nesse caso. Nunca valorizei tanto o Sol como agora.

Ok, mas o que mudou na minha vida com a danada dessa escuridão? Acho que primeiro de tudo, o fato de eu estar vivenciando pela primeira vez a mudança do outono para o inverno me fez sentir mais a diferença de uma estação para outra. Ao mesmo tempo em que a mudança é mais gradual, e teoricamente mais fácil, você também passa a ter mais clareza das mudanças que estão ocorrendo. Vou tentar listar algumas delas com algumas estratégias que estou tentando utilizar para vencer os impactos dos dias curtos com baixa luminosidade:

1) Dificuldade para acordar. Como o Sol só começa a aparecer depois das 08h da manhã (e vai piorar ao longo dos próximos meses), meu ritmo biológico simplesmente não conseguia acompanhar o relógio. Acho que meu cérebro processava: "oxe, ta de noite, por que eu vou acordar?". Acho que não usei nenhuma estratégia específica para vencer essa dificuldade: foi na marra e na prática. Posso até dizer que essa primeira dificuldade foi praticamente superada: meu corpo começou a entender que eu não posso esperar pela luz pra ele começar a trabalhar, o que eu já considero um grande avanço pra essa pernambucana há 29 anos acostumada a acordar com o Sol, mesmo quando eu acordava às 05:30 da manhã. 

2) Cansaço constante. Essas têm sido as queixas mais comuns: falta de energia e sensação de cansaço físico. Não, não é gripe. É carência de Sol. Às vezes acho que sou uma planta tentando inutilmente fazer uma fotossíntese. Esse cansaço se reflete nas tarefas diárias como um todo: falta de disposição pra sair de casa, pra trabalhar, pra cozinhar. Vontade de hibernar. E aqui é onde mora um dos grandes perigos do inverno: o risco de se entrar num processo depressivo. Não é à toa que a Noruega tem altos índices de suicídio e depressão sazonal. Calma que eu não estou nesse nível não, e a principal estratégia que eu tenho utilizado é me esforçar ao máximo para sair de casa, nem que seja dar uma volta no quarteirão, tomar uma café na esquina. Também tenho comido muito doce (essa parte não é ruim) e vou entrar na academia próxima semana. Realizar atividade física é essencial pra energizar o corpo.

3) Dores no corpo. Conversando com os noruegueses e relembrando as aulas de biologia, esse sintoma é efeito direto da falta de Vitamina D. Sem Sol, pouca produção de Vitamina D, baixa absorção de cálcio. O corpo dói, o cansaço aumenta, você fica em casa e o ciclo recomeça. Novamente, tentar aproveitar cada minuto de Sol é essencial. Uma amiga dinamarquesa me aconselhou a dar uma volta na rua depois do almoço e eu tenho tentado fazer isso. O problema é que, além dos dias curtos, os dias estão nublados. Então, quando supostamente haveria Sol (entre 08:30 e 16:00), ele de fato não está lá. O jeito vai ser repor a Vitamina D de uma forma mais artificial. A dica que recebi foi tomar Ômega 3 e eu já estou providenciando isso. Uma prática também comum aqui é frequentar os bronzeamentos artificiais, não apenas pra pegar uma cor, mas pra receber uma luz. Como bronzeamento, funciona, pois é muito comum aqui ver mulheres com as peles em tons laranjas. Suponho que deva funcionar pra Vitamina D também, mas esse negócio de ficar laranja não é comigo não, acho que prefiro o ômega 3. 

4) Baixo rendimento no trabalho. Essa dificuldade, embora seja algo sentido pela maioria das pessoas, acho que me afeta de uma maneira especial pois eu sempre tive dificuldade de trabalhar à noite. Meu melhor horário de produção sempre foi pela manhã e eu tendia a ficar mais lenta quando escurecia. Conclusão: estou ficando lenta às 15:30 da tarde. A luz vai embora, meu cérebro pára e meu estômago diz que é hora de jantar. Resumindo, estou num processo de ensinar aos dois que não é hora de parar e não é hora de comer. A principal estratégia tem sido comer doce nessa hora. Não sei se eu estou criando uma desculpa pra comer doce, mas tem funcionado. Outra estratégia tem sido mudar o ambiente de trabalho ou acender velas. No caso da primeira, tenho criado o costume de sair da minha sala, onde eu trabalho sozinha, e ir para a biblioteca, onde existem mais pessoas trabalhando. Acho que é uma forma de dizer pro meu cérebro: "olha aí, não é hora de parar". Tem funcionando também.

Certo, mas só novembro tem os dias curtos? Por que ele é o pior? Os dias curtos continuam nos próximos meses do inverno, mas em dezembro a decoração de natal ajuda a deixar a cidade mais iluminada, e a chegada da neve quebra um pouco os tons cinzas do mês de novembro. Definitivamente, estou ansiosa pela chegada de dezembro!

Acho que o processo adaptativo é lento e difícil, mas acho que estou tendo alguns progressos. Sem dúvida, a escuridão e o inverno são dois aspectos negativos da Noruega e um desafio grande para quem vem de países como o Brasil. Mas ter a experiência de morar fora envolve exatamente aprendizagem sobre o novo país em que moramos e nosso país de origem. Isto significa reconhecer o que o nosso país ainda tem a melhorar e também o que o nosso país tem de bom. E sem dúvida, no quesito clima, nosso Brasil é literalmente iluminado!

Sunday, October 23, 2011

Das travessuras em Estocolmo

O post de hoje é pra falar de uma travessia misturada com muitas travessuras: nosso final de semana em Estocolmo. Na realidade, a viagem aconteceu há um mês, mas nunca é tarde para falar de bons momentos junto com amigos.

Minha primeira ida a Estocolmo aconteceu na páscoa desse ano, no começo da primavera. Saímos de lá com uma ótima impressão da cidade e com o desejo de voltar outra vez, só não esperávamos que voltaríamos tão rápido. O motivo desse retorno tão rápido é que um casal amigo nosso (Rodrigo e Renata) estava indo do Brasil para um congresso de medicina em Estocolmo. Como eles não teriam tempo de se ausentar da cidade, e como de Oslo pra lá precisamos apenas de um voo de 40 minutos, decidimos ir encontrá-los na Suécia. Além disso, Estocolmo também é a cidade em que mora outro casal de amigos brasileiros: Cintia e Flávio, com sua filha Beatriz. Combinação perfeita: cidade linda + viagem rápida + amigos brasileiros para reencontrar.

Estocolmo é a capital e maior cidade da Suécia. Ela é um pouco maior do que Oslo, tendo quase um milhão de habitantes. A geografia da cidade me encanta bastante: ela é composta por 14 ilhas e 53 pontes, numa região em que o lago Malaren encontra o mar Báltico. Muitos dizem que ela é a Veneza do Norte. Como boa Recifense, está explicado porque a geografia de Estocolmo me encanta tanto. Acho que sua beleza faz da cidade uma das mais visitadas da Escandinávia. Na primeira vez que fui a Estocolmo, saí de lá com a nítida sensação que acabava de conhecer uma das cidades mais lindas da Europa. As imagens abaixo mostram um pouco isso:




Além da geografia, acho que tem outra coisa que me fez ficar encantada com Estocolmo: seu clima cultural que exalta a diversidade. Na realidade, Oslo também é uma cidade que procura valorizar as diferenças, como a maioria das cidades Européias e, principalmente, as cidades da Escandinávia. Mas, não sei se pelo estilo mais alternativo e "cool" de Estocolmo, e também por ser uma cidade maior e mais movimentada do que Oslo, pude sentir um clima ainda maior de liberdade e respeito pelas diferenças. Lembro de estar na estação central e ver casais homoafetivos, crianças, idosos, todos juntos. Essa sensação de ver menos guetos ou lugares específicos para este ou aquele grupo reforçou minha crença de que um mundo com menos preconceito é possível e já existe em alguns cantos do mundo. 

Sem dúvida, a beleza geográfica e arquitetônica, misturada com esse clima de diversidade e liberdade, me deixaram bastante encantada pela cidade. Pra completar, as visitas ainda ocorreram cercadas de ótimas companhias. Nas duas vezes que fomos a Estocolmo, ficamos hospedados da casa de Cintia e Flávio, que já moram na Suécia há quase 3 anos. Eles moram numa região um pouco afastada do centro da cidade, numa casa cercada de belas paisagens. Em nossa primeira visita, tiramos um dia pra curtir a casa e o bom tempo da primavera, com direito a picanha e guaraná antártica.




A visita em abril também foi bem turística. Visitamos vários pontos da cidade, incluindo alguns museus imperdíveis, como o Vasa Museum http://vasamuseet.se/en/, o passeio de barco entre uma ilha e outra dentro da cidade e caminhadas pela ilha de Gamla Stan, que é a ilha onde fica a parte mais antiga da cidade. Sem dúvida, Estocolmo é uma cidade que vale muito a pena!

Na visita que aconteceu mês passado, o clima era outro, tanto em relação ao tempo como em relação ao estilo da viagem. Era outono, e pegamos um tempo bem friozinho, e também fomos no clima de curtir mais os amigos do que turistar pela cidade. Além disso, tivemos menos tempo do que da outra vez. Acho que essa segunda vez foi uma viagem com um estilo bem caseiro, com direito a massagem e corte de cabelo feitos pela nossa anfitriã, Cintia. Aqui na Europa, e principalmente na Escandinávia, esses serviços são muito caros, então as pessoas começam a desenvolver certas habilidades pra não ficarem tão dependentes de outras pessoas. O estilo self service aqui reina! E cintia fez um ótimo serviço :) Eu tentei aprender, mas acho que não levo muito jeito não...



Nessa viagem mais caseira, tivemos um ótimo dia de sol com a família em Vaxholm, uma ilha um pouco afastada do centro de Estocolmo. Mais uma vez a geografia da região me fascinou. E além dessa fascinação, me fascina cada vez mais como Cintia e Flávio estão integrados à cultura sueca. Cintia pra mim tem sido um exemplo de quem tenta mesclar o estilo brasileiro com o estilo europeu de uma maneira bem interessante. E acho que quem vem ganhando muito com isso é Beatriz, a filha do casal que nasceu na Suécia e tem um ano e meio. Quem quiser conhecer um pouco mais da Suécia e da experiência de ser mãe num país escandinavo fica a dica do blog de Cintia: http://www.cintiaanira.blogspot.com/ Ah, foi ela minha grande inspiradora na construção do meu blog :)

Algumas imagens de Vaxholm:







Outra coisa que Estocolmo tem de muito bom é a noite. E nesse ponto, a ilha de Sodermalm é a melhor opção. Lá é possível encontrar muitos bares, pubs e boates de diferentes estilos. Aproveitamos bem as saídas à noite nessa nossa última ida a Estocolmo com a companhia de Renata e Rodrigo, um casal de brasileiros amigos nossos que, assim como nós, adora uma farra. Na primeira noite, fomos ao Vapiano, um restaurante alemão de comida italiana. Léo conhecia esse restaurante do tempo que ele passou na Austrália e nos recomendou. Então fica a dica: se você for em uma cidade que tem o restaurante Vapiano não deixe de comer lá. Além de comida boa, o ambiente é sempre bem decorado e com um astral legal:



Na noite de sábado, a gente decidiu fazer um turismo etílico na ilha de sordemalm. A primeira parada foi no bar Bauer. Quem for visitar Estocolmo e gosta de uns drinks diferentes, não deixe de passar lá. O local tem um ambiente massa e umas bebidas bem exóticas. Vale a pena:



Depois, conhecemos uma balada no meio de um shopping e paramos num pub pra tomar uma cerveja:



Muitos devem pensar na praticidade (ou não) de ficar pulando de bar em bar. Bom, nesse caso, os bares eram todos na mesma rua. Além disso, essa é uma das grandes vantagens de frequentar cidades seguras: anda-se, pega-se metrô e ônibus a qualquer hora da madrugada. Essa sensação de liberdade é boa demais!

A despedida de Estocolmo foi em Gamla Stan, na ilha antiga da cidade. Tomamos um vinho de despedida e fomos correndo pra estação central. Decidimos fazer a viagem de volta pra Oslo de trem. A viagem dura 06h30min, mas vale a pena: as paisagens são bem bonitas e o percurso bem agradável:





Essas minhas duas idas a Estocolmo, e minha experiência de estar morando na Noruega, têm me feito ter certeza de uma coisa: os brasileiros precisam visitar mais a Escandinávia. De fato, a região da Escandinávia é mais cara e mais longe que o resto da Europa, mas quem tiver condições, vale a pena se organizar pra conhecer e desbravar essa parte tão fantástica da Europa. Além de cenário naturais e históricos lindíssimos, os escandinavos tem uma cultura que tem muito a nos ensinar. Espero ter novas travessuras em outras cidades e países em breve...

Ps: agradecimento especial a Cintia, Flávio e Beatriz que nos receberam com tanto carinho em Estocolmo. Estamos esperando vocês aqui em Oslo!

Tuesday, October 11, 2011

Do brinquedo...ao brincar.

O título do blog é bastante pertinente para o assunto desse post. Tem melhor exemplo de travessias e travessuras do que as crianças? No Brasil, dia 12 de outubro é o dia delas, e eu gostaria de trazer minha opinião e fazer algumas reflexões a respeito desse dia. E é inevitável temperar essa discussão com uma pitada de psicologia e da minha atual experiência cultural.

Ler, falar sobre e lidar com crianças e com suas famílias são ações que têm feito parte da minha vida pelo menos nos últimos 5 anos, quando eu decidi trabalhar com desenvolvimento infantil, seja com pesquisa ou com a prática da psicologia na escola. O universo infantil me fascina sob vários aspectos, mas principalmente pela ludicidade e espontaneidade tão característica da criança. Exatamente por isso, me interesso também em refletir sobre como a escola e a sociedade lidam (ajudando ou tolhendo) com o brincar, a imaginação e a criatividade infantil.  Acredito que a forma como concebemos a infância e o ideal de sociedade que queremos construir são alguns dos pilares fundamentais que norteiam (implícita ou explicitamente) a educação de base, seja ela a educação familiar, escolar, cultural (que inclui, entre outras coisas, valores e informações via recursos de comunicação de massa). Por tudo isso, acho que hoje, no dia das crianças, a pergunta que mais me vem à cabeça é: que valores e ideais estamos passando para nossas crianças? E essa pergunta não diz respeito apenas à ideia clichê e futurista sobre o que estamos fazendo com o futuro de nosso país. As crianças, embora passando por fortes mudanças desenvolvimentais, não são um vir-a-ser, um adulto em miniatura, elas são seres com capacidades, motivações, pensamentos e emoções atuais. Por isso, a pergunta não é prospectiva, ela é atual: o que estamos fazendo com as crianças hoje e que consequências nossas atitudes têm para suas vidas?

Um ponto inevitável nessa discussão é o consumo. Embora não venha sendo esse meu tema de pesquisa, o assunto vem ganhando espaço em áreas como a psicologia, a comunicação e o direito. O que mais me preocupa no dia das crianças é que, como a maioria das datas comemorativas no Brasil, elas passam sem uma reflexão. O dia da criança, como o dia dos namorados, o dia dos pais, o dia das mães, virou mais um dia comercial e de consumo em nosso calendário. Nossa preocupação central é comprar um presente. Pra mim, não existe problema em dar um presente em datas comemorativas. O problema é que o presente deixou de ser um símbolo, de ter um significado afetivo,  para se restringir ao concreto, ao real do presente. E quantos mais Reais ele valer, mas Real é seu valor. E parece que quanto mais real, menos simbólico e afetivo ele fica. O presente representa o que mesmo?

Se o lado afetivo é tantas vezes esquecido, o simbolismo e o imperativo do consumo salta aos olhos, aos ouvidso e ao bolso. Bombardeio de propagandas direcionadas ao público infantil, shoppings lotados: compras, compras, compras. Para comemorar o que mesmo? Ah, um parêntese, claro que isso diz respeito à classe média. Enquanto uns fazem compras, outros tentam dar uma desculpa pra seus filhos (muitas vezes cheios de culpa) por não terem dinheiro para comprar o brinquedo da moda. Será que essas crianças não tem o que comemorar? Nessa lógica consumista, que reduziu o dia da criança ao presente real, boa parte das crianças brasileiras não teria muito motivo pra comemoração.

Por sinal,  essa foi a informação que achei no wikipedia a respeito do dia das crianças:

"O dia 12 de outubro foi oficializado como Dia da Criança pelo presidente Arthur Bernardes, por meio do decreto nº 4867, de 5 de novembro de 1924. Mas somente em 1960, quando a Fábrica de Brinquedos Estrela fez uma promoção conjunta com a Johnson & Johnson para lançar a "Semana do Bebê Robusto" e aumentar suas vendas, é que a data passou a ser comemorada. A estratégia deu certo, pois desde então o dia das Crianças é comemorado com muitos presentes. Logo depois, outras empresas decidiram criar a Semana da Criança, para aumentar as vendas. No ano seguinte, os fabricantes de brinquedos decidiram escolher um único dia para a promoção e fizeram ressurgir o antigo decreto. A partir daí, o dia 12 de outubro se tornou uma data importante para o sector de brinquedos no Brasil".

Acho que a pergunta "o que comemoramos no dia das crianças?" está respondida: estratégia, vendas, setor de brinquedos. Quem comemora mesmo é o comércio.

Descobri que aqui na Noruega não existe dia das crianças. Quando eu perguntei para minha amiga Norueguesa, Marlene, a respeito disso, ela questionou curiosa: "como vocês comemoram esse dia?". Para mim, é triste dar essa resposta, mas a resposta mais coerente, pelo menos considerando a maioria dos brasileiros, é: elas ganham presentes. Por um lado é possível pensar na ideia da afetividade da cultura brasileira. Mas pensando que esse presente é muito mais material do que o símbolo de uma troca afetiva, e considerando como o dia da criança se originou, tenho uma tendência a achar que a ausência de um dia das crianças aqui na Noruega tem mais a ver com a lógica de uma cultura muito menos capitalista e consumista.

Onde eu quero chegar com todo esse discurso? Que, na minha opinião, o problema maior não é existir um dia das crianças. O problema central é em que transformamos esse dia. Se é dia da criança, que tal olharmos para suas necessidades e motivações? Acho que, dessa forma, o dia da criança seria mais simples, mais justo, mais afetivo, mais lúdico. A ludicidade não está na compra do brinquedo, mas na motivação para o brincar e na nossa disposição em sermos parceiros de nossas crianças. Se a nossa cultura instituiu um Dia da Criança, que possamos vivênciá-lo com um posicionamento mais crítico.

Minha amiga Mari Martins sugeriu que os pais pudessem levar seus filhos pra doar brinquedos: o valor do dar e doar acima do valor do comprar/receber. Achei a ideia ótima. Acrescento que os pais e a escola também podem olhar para o 12 de outubro como um dia de fato voltado às crianças e não ao mercado. E dessa forma, construir brinquedos é muito mais infantil e lúdico do que comprá-los, além de ser ecologicamente correto. Que tal juntar sucatas e construir brinquedos e jogos junto com as crianças que você conhece? Minha experiência de pesquisa tem mostrado que, independente da classe social, a motivação e a competência da criança pra imaginar, criar e cooperar é muito mais valiosa do que qualquer presente. Por que não comemorar o dia delas pensando de fato nelas: com mais criatividade, imaginação, interação e afeto? Assim, qualquer um, de qualquer classe social, raça, gênero, religião pode comemorar o dia das crianças. E que ele seja não só um, mas 365 dias de emocionantes travessias e lindas travessuras...

Deixo aqui minha homenagem e minha saudade à criança mais importante da minha vida: minha sobrinha e afilhada Giovana. Que a gente ainda tenha muitos momentos de ludicidade juntas. Esse é meu presente pra você!