O post de hoje será para compartilhar uma experiência cultural muito interessante que me ocorreu semana passada: eu vivenciei o meu primeiro dugnad. Segundo a tradução do google, a palavra norueguesa significa voluntário. Mas segundo nosso vizinho norueguês, o sentido da acão é de duty, que em inglês significa dever. Como uma coisa pode ser voluntária e obrigatória ao mesmo tempo? Acho que é um truque linguístico que diz muito da cultura norueguesa: muitas das obrigacões comunitárias aqui são tão internalizadas que são feitas mais pela consciência do que pela obrigatoriedade. Do mesmo modo, a consciência diante de algumas ações não legalmente obrigatórias torna algo voluntário quase como uma obrigação. Votar, por exemplo, não é obrigatório, mas a maioria dos cidadãos considera um dever.
Mas deixa eu explicar o que é o tal do dugnad. Léo leu um cartaz no nosso prédio que falava o dia em que iria acontecer o dugnad. Como eu ainda não entendo nada de norueguês, o cartaz não me chamou atenção, mas como ele já consegue entender alguma coisa da língua, me explicou que se tratava de um dia, que ocorre a cada 6 meses, em que os moradores voluntariamente se reunem para limpar o prédio. Isso mesmo, significa que os moradores (homens, mulheres, adultos, criancas, idosos e gestantes) se reunem para limpar as escadas, as janelas, varrer a entrada, cuidar do jardim, dos bancos da área comum, guardar a churrasqueira (quando é comeco de verão, colocar a churrasqueira pra fora) etc.
Para os olhos da cultura brasileira, especialmente da classe média, a pergunta mais comum é: por que eles não pagam alguém pra fazer isso? De fato, serviços gerais aqui na Noruega são muito caros, fruto de um baixo nível de desigualdade social; mas a questão não era o dinheiro. Dividindo por todos os apartamentos, não iria sair nada pesado pra nenhum morador. Mas é aí que eu acho que é possível entender o sentido do duty na palavra dugnad: não se trata de uma ação voluntária como consequência de não se poder pagar pra alguém limpar o prédio, trata-se da responsabilidade de cada um de, coletivamente, dedicar um tempo para o cuidado com seu próprio ambiente e o ambiente dos outros. Não é uma lei que obriga! É uma consciência que impulsiona voluntariamente! É um voluntariado que os noruegueses sentem como obrigação.
Para os olhos da cultura brasileira, especialmente da classe média, a pergunta mais comum é: por que eles não pagam alguém pra fazer isso? De fato, serviços gerais aqui na Noruega são muito caros, fruto de um baixo nível de desigualdade social; mas a questão não era o dinheiro. Dividindo por todos os apartamentos, não iria sair nada pesado pra nenhum morador. Mas é aí que eu acho que é possível entender o sentido do duty na palavra dugnad: não se trata de uma ação voluntária como consequência de não se poder pagar pra alguém limpar o prédio, trata-se da responsabilidade de cada um de, coletivamente, dedicar um tempo para o cuidado com seu próprio ambiente e o ambiente dos outros. Não é uma lei que obriga! É uma consciência que impulsiona voluntariamente! É um voluntariado que os noruegueses sentem como obrigação.
Eu confesso que fiquei emocionada ao ver pessoas reunidas, em coletividade, pra limpar espaços comuns. Fiquei emocionada com as crianças limpando os bancos e pulando amarelinha ao mesmo tempo. Fiquei emocionada ao ver as pessoas reconhecerem um lugar comum como um lugar de todos e não como um lugar de ninguém. Fiquei emocionada ao ver as pessoas fazendo da faxina uma obrigação coletiva e não um trabalho escravocrata ou inferior, mesmo quando é pago. Fiquei feliz ao me ver junto com as outras pessoas se divertindo ao cuidar do que é nosso! Isso: primeira pessoa do plural. Coletividade.
Foi curioso - e muito interessante - ver uma outra concepção de faxina, de limpeza, de co-responsabilidade. É um trabalho cansativo, sim, mas não é um trabalho inferior. E eu, acho que ainda estranhando um pouco aquela situação, fiquei mais emocionada ainda quando escuto nosso vizinho dizer: "a gente curte muito esse dia, é um momento de ver os ideais que a gente acredita colocados em prática, e também uma oportunidade dos moradores do prédio se socializarem mais". Resumindo: é aquele dia em que você reforça que o mundo não gira só em torno do seu umbigo, nem das paredes da sua casa, e que é preciso ajudar uns aos outros pra manter as coisas em ordem.
E no final, tudo acabou em pizza e boas conversas. Com cada um fazendo sua parte e deixando as coisas no lugar depois da farra...
Nossa senhora como nós Brasileiros vivemos distante disso, falo por mim mesma que sou a primeira a pagar por esse tipo de serviço. Mas achei sensacional a ideia =) Tão bom o coletivo, tão boa a reunião; tão bom todos se ajudarem por um espaço melhor ;) Valeu Ká! Muito bom seu post pra gente acordar um pouco e sair um pouco de cima da cama, do sofá, da cadeira e nos mexer um pouco a favor do coletivo! Bjinhos
ReplyDeleteExperiência realmente encantadora. Quem sabe um dia nós brasileiros cheguemos perto desse sentimento coletivo e solidário!
ReplyDeleteKarine, estou na Suécia há apenas 2 anos e já "internalizei" esse conceito. Hoje em dia já esperamos nossa cartinha indicando o dia da faxina. Depois da limpeza, tem salsicha na grelha e socialização entre os moradores das casas do nosso condomínio. As crianças participam e é sem dúvida, um dia de colocar os interesses da coletividade em prática! Beijos
ReplyDeleteKarine,
ReplyDeleteRealmente sensacional. Eu já me vejo aqui fazendo uma faxina e comendo feijoada no final do dia. Mas isso é algo tão distante ainda, mas eu sou otimista e acho que isso não é impossível. Mas temos que lembrar que a consciência vem junto do que vc falou no início do texto, baixíssima desigualdade social. Enquanto tiver pessoas que "precisam" fazer esses serviços e os fazem a preços baixos ( e essas pessoas parecem invisíveis aos olho dos que pagam e seu trabalho só é valorizado quando não é feito) e enquanto a gente tiver dinheiro para pagar esses serviços (que são desqualificados pq a maioria dos que pagam nunca fez esse serviço)vamos ter desigualdade e vamos continuar pagando. O desenvolvimento é um processo que vem junto com a volorização de todo tipo de trabalho, da dignidade humana e da solidariedade. Se não for assim, não é desenvolvimento. Quero ir te ver num dia desses ai e fazer a faxina com vc! kkkkkkkkkk
Pois é, gente, a sensação boa disso tudo é pensar que muito do que a gente defende no Brasil já existe em algum lugar do mundo, ou seja, não é utopia. Mas como Mari disso, muitas mudanças de base precisam ocorrer pra gente ver experiências como essas no nosso país. Mas eu acredito! :) Não é à toa que escolhi trabalhar com educação. Vou sempre procurar postar essas experiências culturais, assim a gente pode discutir um pouquinho, né? Cintia, acho que essa é uma diferença entre conhecer o lugar como turista e como moradora, né? A gente vai tendo a oportunidade de internalizar certas práticas e fazer delas nossa rotina. Beijos em todos!
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