Sunday, December 4, 2011

Dos milhões de aprendizados...ao aprendizado espiritual

Quando eu decidi morar um tempo na Europa, minhas grandes motivações estavam centradas nas esferas profissional, pessoal e cultural. O post do dia 13 de setembro fala um pouco sobre essas motivações. Contudo, esses primeiros meses aqui têm me feito ter certeza que meu aprendizado e crescimento na Noruega estão relacionados também a outra dimensão: meu aprimoramento espiritual.

Apesar de ter sido batizada e ter feito primeira comunhão, não posso dizer que tive uma criação católica de fato. Acho que esses momentos foram muito mais frutos de um ato social e religioso comum no Brasil do que devido à crença religiosa dos meus pais. Na realidade, via meus pais exercendo a fé e alguns princípios do Cristianismo de uma maneira prática e diária, mas não como adeptos de nenhuma igreja. Em torno dos 15 anos, eu acho, eu comecei a frequentar centro espírita com meu pai, que se tornou pra mim um grande incentivador da leitura das obras de Allan Kardec e de Chico Xavier. Me identifiquei com a Doutrina e, principalmente quando morei em Minas Gerais, passei a frequentar o centro com uma certa assiduidade. Embora sem ter me dedicado com afinco ao estudo da Doutrina, acho que foi em Minas que passei a me denominar uma espírita.

Voltando pra Recife, e começando a faculdade de Psicologia, me afastei bastante do Espiritismo. Acho que quem é ou foi estudante de Psicologia entende um pouco o que isso significa. A vida acadêmica tende a colocar as pessoas em constante questionamento a respeito da fé, uma vez que, historicamente e socialmente, conhecimento científico e religião foram concebidos como domínios opostos e incompatíveis. Um parêntese aqui, embora a maioria defina o Espiritismo como uma religião, ele pertence muito mais ao âmbito de uma Doutrina ou de uma Filosofia.  Segundo o próprio Kardec, se você entende religião como a prática da fé, o Espiritismo pode ser considerado como religião, mas se esta é definida por ritos e normas, o Espiritismo não pode ser enquadrado como tal. É nesse sentido que os centros espíritas não funcionam baseado em ritos mas em estudos que visam a compreensão do mundo espírita e da prática cristã em nossas atividades diárias.

Bom, mas deixa eu voltar ao momento do meu afastamento do Espiritismo. No caso da Psicologia em específico, uma vez que estudamos as diferentes facetas do comportamento humano, inclusive o papel da religião na constituição de nossa identidade, muitas vezes somos colocados diante de novas explicações outrora encontradas apenas no conhecimento religioso. Para mim, essa experiência acarretou um afastamento da minha fé e um foco extremamente forte na dita lógica científica. Avaliando hoje, acho que esse afastamento teve muitos pontos positivos. Acho que consegui me abrir mais para a lógica construída pela psicologia, consegui enxergar certas coisas até então pouco compreensíveis e construí um bom senso crítico diante de coisas que costumava aceitar sem muita reflexão. O fato é que terminei o curso com a sensação de que ciência e fé eram coisas realmente inconciliáveis.

Não sei precisar quando eu comecei a rever essa ideia de incompatibilidade entre os dois domínios, mas gostaria de enfatizar como a Noruega vem contribuindo para eu reencontrar minha fé e, principalmente, para eu entender que ser psicóloga e espírita não são coisas contraditórias. É engraçado eu começar a ter mais clareza disso aqui na Noruega, um país de tradição pouco religiosa e onde a maioria não sabe nem o que é o Espiritismo. Muitos nunca ouviram nem falar.

Uma pesquisa realizada em 2006 indica que quase 70% dos noruegueses são ateus. Entre aqueles que possuem alguma fé ou crença religiosa, a maioria é Protestante, embora muitos não frequentem com assiduidade as igrejas. O site do Consulado da Noruega no Brasil fala um pouco mais sobre a religião no país.  O fato é que, seguindo a cultura local, eu tinha tudo para me afastar ainda mais do espiritismo. O que contribuiu então para o caminho inverso?

Acho que em primeiro lugar, e talvez contraditoriamente, a própria cultura norueguesa ajudou bastante. Digo isso porque aqui o ritmo de trabalho é mais tranquilo e as pessoas procuram ter um maior equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal (preciso fazer um post sobre isso também). Tentando entrar nesse estilo de vida norueguês, eu comecei a construir uma rotina em que eu tivesse, literalmente, mais tempo para mim, minhas leituras, meu crescimento pessoal. Se um dos motivos das pessoas não fazerem isso é a falta de tempo, aqui eu não tinha muito essa desculpa.

O segundo ponto foi que a mudança em si tende a dar um nó na cabeça da gente, faz a gente questionar um tanto de coisa, e aquela velha pergunta "o que danado eu tô fazendo aqui?" não parava de apitar em meus pensamentos. Acho que a mudança de país, de cultura, de estilo de vida impulsionam também uma mudança mais interior. Eu poderia ter feito essa mudança recorrendo a vários recursos diferentes, e eu não sei explicar exatamente porque, mas eu resolvi procurar um centro espírita. Decisão quase fadada ao fracasso dada a alta probabilidade de eu não encontrar um centro em Oslo.

Mas eis que acontecem aqueles fatos e aqueles encontros que mudam toda a história. Em conversa com um amigo brasileiro, que eu não sabia que era espírita, comentei, assim como quem não quer nada (e talvez nem quisesse mesmo), que eu queria encontrar um centro espírita em Oslo. "Poderia ser inglês", eu disse. A resposta que ouvi do meu amigo Leandro foi: "serve um brasileiro? Reunião quarta-feira. Bora?". Se não existia a falta de tempo e a suposta dificuldade de achar um centro aqui na Noruega estava resolvida, parecia que era a hora mesmo de tentar de novo. 

"Achei um Centro Espírita, painho". Foi a notícia que dei àquele que, como bom espírita, assistiu meu afastamento da doutrina sem me julgar ou me "converter", respeitando meu livre arbítrio. Hoje, escrevendo esse texto, eu tenho dúvida se eu achei de fato o GEEAK-Norge ou se eles me acharam. Estou me lembrando aqui que eu não procurei nada na internet, mas num comentário de mesa de bar, ele surgiu. Mas a decisão foi minha de aceitar o convite e ir ao seu encontro.

O GEEAK, Grupo de Estudos Espíritas Allan Kardec, foi fundado em Oslo por brasileiros em 1993, numa época em que a imigração brasileira aqui era quase nula. Com a chegada de mais brasileiros o grupo foi crescendo, e hoje seu maior desafio é oferecer seus serviços na língua norueguesa para que a população local possa ter mais informações a respeito do espiritismo. 

O GEEAK tem sido uma família pra mim. Uma família grande, iluminada, enriquecedora. Como o grupo é pequeno, seu funcionamento ocorre predominantemente com base em grupos de estudo, um formato que me agrada mais do que as reuniões em estilo palestra, pois permite uma maior dinamicidade e, consequentemente, um maior aprendizado. Atualmente, estou trabalhando na casa como uma das facilitadoras do grupo de estudo sobre o Livro dos Espíritos. Ontem, por exemplo, ocorreu o primeiro Encontro de Grupos Espíritas da Noruega e foi um momento importante onde pudemos discutir um pouco sobre o Espiritismo na Noruega e os desafios dos grupos espíritas nos países nórdicos.

Em outro post, escrevo mais sobre como é o Espiritismo na Escandinávia. Mas, qual o objetivo desse post mesmo? Primeiro é bom dizer o que ele não é: não é a procura de dizer que o Espiritismo está acima de qualquer outra crença nem instigar um debate religioso sobre a existência ou não de Deus. O post é mais a consequência de umas reflexões que tenho feito bastante nos últimos dias, em especial depois do Encontro de ontem: minhas razões em morar na Noruega estão muito mais além do que eu imaginava. Não bastasse tanto crescimento cultural, pessoal e profissional, estou tendo a oportunidade de viver uma excelente experiência de aprimoramento espiritual que merece ser compartilhada e agradecida. Além disso, como fonte de informação, fica a dica da existência de um Grupo Espírita em Oslo para os interessados em conhecer mais e/ou participar das atividades. Afinal, é o livro arbítrio que nos conduz a certas escolhas e nos responsabiliza por elas. Eu fiz a minha e o GEEAK a acolheu. Que a gente possa crescer juntos com todas as responsabilidades que isso envolve.

Ps: painho, obrigada por ser um exemplo da boa prática espírita e, principalmente, obrigada por respeitar meu afastamento, foi a melhor forma de me trazer de volta ao espiritismo.

"Sem o livre arbítrio há fatalidade, e com a fatalidade não existiria a co-responsabilidade" (Allan Kardec, O Céu e o Inferno)


Sunday, November 13, 2011

Do Outono...para o Inverno

Novembro chegou. E para os noruegueses, isso significa que chegou o mês mais difícil do ano. Sempre que  eu falo que eu sou brasileira, a pergunta mais comum é: já conhece o inverno norueguês? Minha resposta é que sim, pois já passei três meses aqui esse ano, de fevereiro a abril. Vi muita neve e peguei -23 graus. Isso é conhecer o inverno, não é? Sim, isso é conhecer uma parte dele, mas eu ainda não havia conhecido a outra parte: o inverno sem neve e a escuridão típica do mês de novembro. E agora, depois de quase 15 dias conhecendo esse lado mais negro do inverno, posso ter certeza de uma coisa: a falta de sol é muito pior do que as temperaturas baixas.

Eu já tinha ouvido Léo fazer essa mesma avaliação, mas confesso que sem viver a experiência, eu não conseguia entendê-la muito bem. Era difícil imaginar que existia algo pior do que uma temperatura de -20. Acho que no fundo é difícil para uma pernambucana, abençoada com temperaturas elevadas e muito Sol durante quase todo ano, entender o impacto da falta de luz solar. Sabe aquele clichê "a gente só dá valor quando perde"? Aplica-se perfeitamente nesse caso. Nunca valorizei tanto o Sol como agora.

Ok, mas o que mudou na minha vida com a danada dessa escuridão? Acho que primeiro de tudo, o fato de eu estar vivenciando pela primeira vez a mudança do outono para o inverno me fez sentir mais a diferença de uma estação para outra. Ao mesmo tempo em que a mudança é mais gradual, e teoricamente mais fácil, você também passa a ter mais clareza das mudanças que estão ocorrendo. Vou tentar listar algumas delas com algumas estratégias que estou tentando utilizar para vencer os impactos dos dias curtos com baixa luminosidade:

1) Dificuldade para acordar. Como o Sol só começa a aparecer depois das 08h da manhã (e vai piorar ao longo dos próximos meses), meu ritmo biológico simplesmente não conseguia acompanhar o relógio. Acho que meu cérebro processava: "oxe, ta de noite, por que eu vou acordar?". Acho que não usei nenhuma estratégia específica para vencer essa dificuldade: foi na marra e na prática. Posso até dizer que essa primeira dificuldade foi praticamente superada: meu corpo começou a entender que eu não posso esperar pela luz pra ele começar a trabalhar, o que eu já considero um grande avanço pra essa pernambucana há 29 anos acostumada a acordar com o Sol, mesmo quando eu acordava às 05:30 da manhã. 

2) Cansaço constante. Essas têm sido as queixas mais comuns: falta de energia e sensação de cansaço físico. Não, não é gripe. É carência de Sol. Às vezes acho que sou uma planta tentando inutilmente fazer uma fotossíntese. Esse cansaço se reflete nas tarefas diárias como um todo: falta de disposição pra sair de casa, pra trabalhar, pra cozinhar. Vontade de hibernar. E aqui é onde mora um dos grandes perigos do inverno: o risco de se entrar num processo depressivo. Não é à toa que a Noruega tem altos índices de suicídio e depressão sazonal. Calma que eu não estou nesse nível não, e a principal estratégia que eu tenho utilizado é me esforçar ao máximo para sair de casa, nem que seja dar uma volta no quarteirão, tomar uma café na esquina. Também tenho comido muito doce (essa parte não é ruim) e vou entrar na academia próxima semana. Realizar atividade física é essencial pra energizar o corpo.

3) Dores no corpo. Conversando com os noruegueses e relembrando as aulas de biologia, esse sintoma é efeito direto da falta de Vitamina D. Sem Sol, pouca produção de Vitamina D, baixa absorção de cálcio. O corpo dói, o cansaço aumenta, você fica em casa e o ciclo recomeça. Novamente, tentar aproveitar cada minuto de Sol é essencial. Uma amiga dinamarquesa me aconselhou a dar uma volta na rua depois do almoço e eu tenho tentado fazer isso. O problema é que, além dos dias curtos, os dias estão nublados. Então, quando supostamente haveria Sol (entre 08:30 e 16:00), ele de fato não está lá. O jeito vai ser repor a Vitamina D de uma forma mais artificial. A dica que recebi foi tomar Ômega 3 e eu já estou providenciando isso. Uma prática também comum aqui é frequentar os bronzeamentos artificiais, não apenas pra pegar uma cor, mas pra receber uma luz. Como bronzeamento, funciona, pois é muito comum aqui ver mulheres com as peles em tons laranjas. Suponho que deva funcionar pra Vitamina D também, mas esse negócio de ficar laranja não é comigo não, acho que prefiro o ômega 3. 

4) Baixo rendimento no trabalho. Essa dificuldade, embora seja algo sentido pela maioria das pessoas, acho que me afeta de uma maneira especial pois eu sempre tive dificuldade de trabalhar à noite. Meu melhor horário de produção sempre foi pela manhã e eu tendia a ficar mais lenta quando escurecia. Conclusão: estou ficando lenta às 15:30 da tarde. A luz vai embora, meu cérebro pára e meu estômago diz que é hora de jantar. Resumindo, estou num processo de ensinar aos dois que não é hora de parar e não é hora de comer. A principal estratégia tem sido comer doce nessa hora. Não sei se eu estou criando uma desculpa pra comer doce, mas tem funcionado. Outra estratégia tem sido mudar o ambiente de trabalho ou acender velas. No caso da primeira, tenho criado o costume de sair da minha sala, onde eu trabalho sozinha, e ir para a biblioteca, onde existem mais pessoas trabalhando. Acho que é uma forma de dizer pro meu cérebro: "olha aí, não é hora de parar". Tem funcionando também.

Certo, mas só novembro tem os dias curtos? Por que ele é o pior? Os dias curtos continuam nos próximos meses do inverno, mas em dezembro a decoração de natal ajuda a deixar a cidade mais iluminada, e a chegada da neve quebra um pouco os tons cinzas do mês de novembro. Definitivamente, estou ansiosa pela chegada de dezembro!

Acho que o processo adaptativo é lento e difícil, mas acho que estou tendo alguns progressos. Sem dúvida, a escuridão e o inverno são dois aspectos negativos da Noruega e um desafio grande para quem vem de países como o Brasil. Mas ter a experiência de morar fora envolve exatamente aprendizagem sobre o novo país em que moramos e nosso país de origem. Isto significa reconhecer o que o nosso país ainda tem a melhorar e também o que o nosso país tem de bom. E sem dúvida, no quesito clima, nosso Brasil é literalmente iluminado!

Sunday, October 23, 2011

Das travessuras em Estocolmo

O post de hoje é pra falar de uma travessia misturada com muitas travessuras: nosso final de semana em Estocolmo. Na realidade, a viagem aconteceu há um mês, mas nunca é tarde para falar de bons momentos junto com amigos.

Minha primeira ida a Estocolmo aconteceu na páscoa desse ano, no começo da primavera. Saímos de lá com uma ótima impressão da cidade e com o desejo de voltar outra vez, só não esperávamos que voltaríamos tão rápido. O motivo desse retorno tão rápido é que um casal amigo nosso (Rodrigo e Renata) estava indo do Brasil para um congresso de medicina em Estocolmo. Como eles não teriam tempo de se ausentar da cidade, e como de Oslo pra lá precisamos apenas de um voo de 40 minutos, decidimos ir encontrá-los na Suécia. Além disso, Estocolmo também é a cidade em que mora outro casal de amigos brasileiros: Cintia e Flávio, com sua filha Beatriz. Combinação perfeita: cidade linda + viagem rápida + amigos brasileiros para reencontrar.

Estocolmo é a capital e maior cidade da Suécia. Ela é um pouco maior do que Oslo, tendo quase um milhão de habitantes. A geografia da cidade me encanta bastante: ela é composta por 14 ilhas e 53 pontes, numa região em que o lago Malaren encontra o mar Báltico. Muitos dizem que ela é a Veneza do Norte. Como boa Recifense, está explicado porque a geografia de Estocolmo me encanta tanto. Acho que sua beleza faz da cidade uma das mais visitadas da Escandinávia. Na primeira vez que fui a Estocolmo, saí de lá com a nítida sensação que acabava de conhecer uma das cidades mais lindas da Europa. As imagens abaixo mostram um pouco isso:




Além da geografia, acho que tem outra coisa que me fez ficar encantada com Estocolmo: seu clima cultural que exalta a diversidade. Na realidade, Oslo também é uma cidade que procura valorizar as diferenças, como a maioria das cidades Européias e, principalmente, as cidades da Escandinávia. Mas, não sei se pelo estilo mais alternativo e "cool" de Estocolmo, e também por ser uma cidade maior e mais movimentada do que Oslo, pude sentir um clima ainda maior de liberdade e respeito pelas diferenças. Lembro de estar na estação central e ver casais homoafetivos, crianças, idosos, todos juntos. Essa sensação de ver menos guetos ou lugares específicos para este ou aquele grupo reforçou minha crença de que um mundo com menos preconceito é possível e já existe em alguns cantos do mundo. 

Sem dúvida, a beleza geográfica e arquitetônica, misturada com esse clima de diversidade e liberdade, me deixaram bastante encantada pela cidade. Pra completar, as visitas ainda ocorreram cercadas de ótimas companhias. Nas duas vezes que fomos a Estocolmo, ficamos hospedados da casa de Cintia e Flávio, que já moram na Suécia há quase 3 anos. Eles moram numa região um pouco afastada do centro da cidade, numa casa cercada de belas paisagens. Em nossa primeira visita, tiramos um dia pra curtir a casa e o bom tempo da primavera, com direito a picanha e guaraná antártica.




A visita em abril também foi bem turística. Visitamos vários pontos da cidade, incluindo alguns museus imperdíveis, como o Vasa Museum http://vasamuseet.se/en/, o passeio de barco entre uma ilha e outra dentro da cidade e caminhadas pela ilha de Gamla Stan, que é a ilha onde fica a parte mais antiga da cidade. Sem dúvida, Estocolmo é uma cidade que vale muito a pena!

Na visita que aconteceu mês passado, o clima era outro, tanto em relação ao tempo como em relação ao estilo da viagem. Era outono, e pegamos um tempo bem friozinho, e também fomos no clima de curtir mais os amigos do que turistar pela cidade. Além disso, tivemos menos tempo do que da outra vez. Acho que essa segunda vez foi uma viagem com um estilo bem caseiro, com direito a massagem e corte de cabelo feitos pela nossa anfitriã, Cintia. Aqui na Europa, e principalmente na Escandinávia, esses serviços são muito caros, então as pessoas começam a desenvolver certas habilidades pra não ficarem tão dependentes de outras pessoas. O estilo self service aqui reina! E cintia fez um ótimo serviço :) Eu tentei aprender, mas acho que não levo muito jeito não...



Nessa viagem mais caseira, tivemos um ótimo dia de sol com a família em Vaxholm, uma ilha um pouco afastada do centro de Estocolmo. Mais uma vez a geografia da região me fascinou. E além dessa fascinação, me fascina cada vez mais como Cintia e Flávio estão integrados à cultura sueca. Cintia pra mim tem sido um exemplo de quem tenta mesclar o estilo brasileiro com o estilo europeu de uma maneira bem interessante. E acho que quem vem ganhando muito com isso é Beatriz, a filha do casal que nasceu na Suécia e tem um ano e meio. Quem quiser conhecer um pouco mais da Suécia e da experiência de ser mãe num país escandinavo fica a dica do blog de Cintia: http://www.cintiaanira.blogspot.com/ Ah, foi ela minha grande inspiradora na construção do meu blog :)

Algumas imagens de Vaxholm:







Outra coisa que Estocolmo tem de muito bom é a noite. E nesse ponto, a ilha de Sodermalm é a melhor opção. Lá é possível encontrar muitos bares, pubs e boates de diferentes estilos. Aproveitamos bem as saídas à noite nessa nossa última ida a Estocolmo com a companhia de Renata e Rodrigo, um casal de brasileiros amigos nossos que, assim como nós, adora uma farra. Na primeira noite, fomos ao Vapiano, um restaurante alemão de comida italiana. Léo conhecia esse restaurante do tempo que ele passou na Austrália e nos recomendou. Então fica a dica: se você for em uma cidade que tem o restaurante Vapiano não deixe de comer lá. Além de comida boa, o ambiente é sempre bem decorado e com um astral legal:



Na noite de sábado, a gente decidiu fazer um turismo etílico na ilha de sordemalm. A primeira parada foi no bar Bauer. Quem for visitar Estocolmo e gosta de uns drinks diferentes, não deixe de passar lá. O local tem um ambiente massa e umas bebidas bem exóticas. Vale a pena:



Depois, conhecemos uma balada no meio de um shopping e paramos num pub pra tomar uma cerveja:



Muitos devem pensar na praticidade (ou não) de ficar pulando de bar em bar. Bom, nesse caso, os bares eram todos na mesma rua. Além disso, essa é uma das grandes vantagens de frequentar cidades seguras: anda-se, pega-se metrô e ônibus a qualquer hora da madrugada. Essa sensação de liberdade é boa demais!

A despedida de Estocolmo foi em Gamla Stan, na ilha antiga da cidade. Tomamos um vinho de despedida e fomos correndo pra estação central. Decidimos fazer a viagem de volta pra Oslo de trem. A viagem dura 06h30min, mas vale a pena: as paisagens são bem bonitas e o percurso bem agradável:





Essas minhas duas idas a Estocolmo, e minha experiência de estar morando na Noruega, têm me feito ter certeza de uma coisa: os brasileiros precisam visitar mais a Escandinávia. De fato, a região da Escandinávia é mais cara e mais longe que o resto da Europa, mas quem tiver condições, vale a pena se organizar pra conhecer e desbravar essa parte tão fantástica da Europa. Além de cenário naturais e históricos lindíssimos, os escandinavos tem uma cultura que tem muito a nos ensinar. Espero ter novas travessuras em outras cidades e países em breve...

Ps: agradecimento especial a Cintia, Flávio e Beatriz que nos receberam com tanto carinho em Estocolmo. Estamos esperando vocês aqui em Oslo!

Tuesday, October 11, 2011

Do brinquedo...ao brincar.

O título do blog é bastante pertinente para o assunto desse post. Tem melhor exemplo de travessias e travessuras do que as crianças? No Brasil, dia 12 de outubro é o dia delas, e eu gostaria de trazer minha opinião e fazer algumas reflexões a respeito desse dia. E é inevitável temperar essa discussão com uma pitada de psicologia e da minha atual experiência cultural.

Ler, falar sobre e lidar com crianças e com suas famílias são ações que têm feito parte da minha vida pelo menos nos últimos 5 anos, quando eu decidi trabalhar com desenvolvimento infantil, seja com pesquisa ou com a prática da psicologia na escola. O universo infantil me fascina sob vários aspectos, mas principalmente pela ludicidade e espontaneidade tão característica da criança. Exatamente por isso, me interesso também em refletir sobre como a escola e a sociedade lidam (ajudando ou tolhendo) com o brincar, a imaginação e a criatividade infantil.  Acredito que a forma como concebemos a infância e o ideal de sociedade que queremos construir são alguns dos pilares fundamentais que norteiam (implícita ou explicitamente) a educação de base, seja ela a educação familiar, escolar, cultural (que inclui, entre outras coisas, valores e informações via recursos de comunicação de massa). Por tudo isso, acho que hoje, no dia das crianças, a pergunta que mais me vem à cabeça é: que valores e ideais estamos passando para nossas crianças? E essa pergunta não diz respeito apenas à ideia clichê e futurista sobre o que estamos fazendo com o futuro de nosso país. As crianças, embora passando por fortes mudanças desenvolvimentais, não são um vir-a-ser, um adulto em miniatura, elas são seres com capacidades, motivações, pensamentos e emoções atuais. Por isso, a pergunta não é prospectiva, ela é atual: o que estamos fazendo com as crianças hoje e que consequências nossas atitudes têm para suas vidas?

Um ponto inevitável nessa discussão é o consumo. Embora não venha sendo esse meu tema de pesquisa, o assunto vem ganhando espaço em áreas como a psicologia, a comunicação e o direito. O que mais me preocupa no dia das crianças é que, como a maioria das datas comemorativas no Brasil, elas passam sem uma reflexão. O dia da criança, como o dia dos namorados, o dia dos pais, o dia das mães, virou mais um dia comercial e de consumo em nosso calendário. Nossa preocupação central é comprar um presente. Pra mim, não existe problema em dar um presente em datas comemorativas. O problema é que o presente deixou de ser um símbolo, de ter um significado afetivo,  para se restringir ao concreto, ao real do presente. E quantos mais Reais ele valer, mas Real é seu valor. E parece que quanto mais real, menos simbólico e afetivo ele fica. O presente representa o que mesmo?

Se o lado afetivo é tantas vezes esquecido, o simbolismo e o imperativo do consumo salta aos olhos, aos ouvidso e ao bolso. Bombardeio de propagandas direcionadas ao público infantil, shoppings lotados: compras, compras, compras. Para comemorar o que mesmo? Ah, um parêntese, claro que isso diz respeito à classe média. Enquanto uns fazem compras, outros tentam dar uma desculpa pra seus filhos (muitas vezes cheios de culpa) por não terem dinheiro para comprar o brinquedo da moda. Será que essas crianças não tem o que comemorar? Nessa lógica consumista, que reduziu o dia da criança ao presente real, boa parte das crianças brasileiras não teria muito motivo pra comemoração.

Por sinal,  essa foi a informação que achei no wikipedia a respeito do dia das crianças:

"O dia 12 de outubro foi oficializado como Dia da Criança pelo presidente Arthur Bernardes, por meio do decreto nº 4867, de 5 de novembro de 1924. Mas somente em 1960, quando a Fábrica de Brinquedos Estrela fez uma promoção conjunta com a Johnson & Johnson para lançar a "Semana do Bebê Robusto" e aumentar suas vendas, é que a data passou a ser comemorada. A estratégia deu certo, pois desde então o dia das Crianças é comemorado com muitos presentes. Logo depois, outras empresas decidiram criar a Semana da Criança, para aumentar as vendas. No ano seguinte, os fabricantes de brinquedos decidiram escolher um único dia para a promoção e fizeram ressurgir o antigo decreto. A partir daí, o dia 12 de outubro se tornou uma data importante para o sector de brinquedos no Brasil".

Acho que a pergunta "o que comemoramos no dia das crianças?" está respondida: estratégia, vendas, setor de brinquedos. Quem comemora mesmo é o comércio.

Descobri que aqui na Noruega não existe dia das crianças. Quando eu perguntei para minha amiga Norueguesa, Marlene, a respeito disso, ela questionou curiosa: "como vocês comemoram esse dia?". Para mim, é triste dar essa resposta, mas a resposta mais coerente, pelo menos considerando a maioria dos brasileiros, é: elas ganham presentes. Por um lado é possível pensar na ideia da afetividade da cultura brasileira. Mas pensando que esse presente é muito mais material do que o símbolo de uma troca afetiva, e considerando como o dia da criança se originou, tenho uma tendência a achar que a ausência de um dia das crianças aqui na Noruega tem mais a ver com a lógica de uma cultura muito menos capitalista e consumista.

Onde eu quero chegar com todo esse discurso? Que, na minha opinião, o problema maior não é existir um dia das crianças. O problema central é em que transformamos esse dia. Se é dia da criança, que tal olharmos para suas necessidades e motivações? Acho que, dessa forma, o dia da criança seria mais simples, mais justo, mais afetivo, mais lúdico. A ludicidade não está na compra do brinquedo, mas na motivação para o brincar e na nossa disposição em sermos parceiros de nossas crianças. Se a nossa cultura instituiu um Dia da Criança, que possamos vivênciá-lo com um posicionamento mais crítico.

Minha amiga Mari Martins sugeriu que os pais pudessem levar seus filhos pra doar brinquedos: o valor do dar e doar acima do valor do comprar/receber. Achei a ideia ótima. Acrescento que os pais e a escola também podem olhar para o 12 de outubro como um dia de fato voltado às crianças e não ao mercado. E dessa forma, construir brinquedos é muito mais infantil e lúdico do que comprá-los, além de ser ecologicamente correto. Que tal juntar sucatas e construir brinquedos e jogos junto com as crianças que você conhece? Minha experiência de pesquisa tem mostrado que, independente da classe social, a motivação e a competência da criança pra imaginar, criar e cooperar é muito mais valiosa do que qualquer presente. Por que não comemorar o dia delas pensando de fato nelas: com mais criatividade, imaginação, interação e afeto? Assim, qualquer um, de qualquer classe social, raça, gênero, religião pode comemorar o dia das crianças. E que ele seja não só um, mas 365 dias de emocionantes travessias e lindas travessuras...

Deixo aqui minha homenagem e minha saudade à criança mais importante da minha vida: minha sobrinha e afilhada Giovana. Que a gente ainda tenha muitos momentos de ludicidade juntas. Esse é meu presente pra você!


Monday, October 3, 2011

Do individual....ao coletivo

O post de hoje será para compartilhar uma experiência cultural muito interessante que me ocorreu semana passada: eu vivenciei o meu primeiro dugnad. Segundo a tradução do google, a palavra norueguesa significa voluntário. Mas segundo nosso vizinho norueguês, o sentido da acão é de duty, que em inglês significa dever. Como uma coisa pode ser voluntária e obrigatória ao mesmo tempo? Acho que é um truque linguístico que diz muito da cultura norueguesa: muitas das obrigacões comunitárias aqui são tão internalizadas que são feitas mais pela consciência do que pela obrigatoriedade. Do mesmo modo, a consciência diante de algumas ações não legalmente obrigatórias torna algo voluntário quase como uma obrigação. Votar, por exemplo, não é obrigatório, mas a maioria dos cidadãos considera um dever.

Mas deixa eu explicar o que é o tal do dugnad. Léo leu um cartaz no nosso prédio que falava o dia em que iria acontecer o dugnad. Como eu ainda não entendo nada de norueguês, o cartaz não me chamou atenção, mas como ele já consegue entender alguma coisa da língua, me explicou que se tratava de um dia, que ocorre a cada 6 meses,  em que os moradores voluntariamente se reunem para limpar o prédio. Isso mesmo, significa que os moradores (homens, mulheres, adultos, criancas, idosos e gestantes) se reunem para limpar as escadas, as janelas, varrer a entrada, cuidar do jardim, dos bancos da área comum, guardar a churrasqueira (quando é comeco de verão, colocar a churrasqueira pra fora) etc.

Para os olhos da cultura brasileira, especialmente da classe média, a pergunta mais comum é: por que eles não pagam alguém pra fazer isso? De fato, serviços gerais aqui na Noruega são muito caros, fruto de um baixo nível de desigualdade social; mas a questão não era o dinheiro. Dividindo por todos os apartamentos, não iria sair nada pesado pra nenhum morador. Mas é aí que eu acho que é possível entender o sentido do duty na palavra dugnad: não se trata de uma ação voluntária como consequência de não se poder pagar pra alguém limpar o prédio, trata-se da responsabilidade de cada um de, coletivamente, dedicar um tempo para o cuidado com seu próprio ambiente e o ambiente dos outros. Não é uma lei que obriga! É uma consciência que impulsiona voluntariamente! É um voluntariado que os noruegueses sentem como obrigação.

Eu confesso que fiquei emocionada ao ver pessoas reunidas, em coletividade, pra limpar espaços comuns. Fiquei emocionada com as crianças limpando os bancos e pulando amarelinha ao mesmo tempo. Fiquei emocionada ao ver as pessoas reconhecerem um lugar comum como um lugar de todos e não como um lugar de ninguém. Fiquei emocionada ao ver as pessoas fazendo da faxina uma obrigação coletiva e não um trabalho escravocrata ou inferior, mesmo quando é pago. Fiquei feliz ao me ver junto com as outras pessoas se divertindo ao cuidar do que é nosso! Isso: primeira pessoa do plural. Coletividade.

Foi curioso - e muito interessante - ver uma outra concepção de faxina, de limpeza, de co-responsabilidade. É um trabalho cansativo, sim, mas não é um trabalho inferior. E eu, acho que ainda estranhando um pouco aquela situação, fiquei mais emocionada ainda quando escuto nosso vizinho dizer: "a gente curte muito esse dia, é um momento de ver os ideais que a gente acredita colocados em prática, e também uma oportunidade dos moradores do prédio se socializarem mais". Resumindo: é aquele dia em que você reforça que o mundo não gira só em torno do seu umbigo, nem das paredes da sua casa, e que é preciso ajudar uns aos outros pra manter as coisas em ordem.

E no final, tudo acabou em pizza e boas conversas. Com cada um fazendo sua parte e deixando as coisas no lugar depois da farra...




Tuesday, September 20, 2011

De filha....pra Pai

Meu último post foi um relato sobre o meu primeiro aniversário na Noruega, sobre como aproveitei meu dia aqui em Oslo apesar da saudade do Brasil, da família e dos amigos brasileiros. Esse post continua falando sobre aniversário, mas sob uma nova perspectiva: estar longe quando alguém muito especial no Brasil está fazendo a travessia da nova idade. Estou tendo hoje a experiência de, pela primeira vez, não estar perto do meu pai no dia do seu aniversário. E confesso: está sendo mais difícil do que o dia do meu próprio aniversário. Quando é você quem está longe de todo mundo, você tenta compensar com outras coisas: as novas companhias, as novas programações, as novas possibilidades. Mas e quando a pessoa que faz aninversário está longe de você, como se faz? Estou aceitando sugestões para os próximos que irei passar, mas a solução que encontrei pra diminuir a tristeza de hoje foi ESCREVER. Escrevendo alivio a minha saudade e deixo aqui registrada minha homenagem a uma das pessoas mais importantes da minha vida.

Quem convive comigo e com minha família não teria dúvida em dizer que eu sou super parecida com minha mãe. E sou mesmo: meio invocada, tagarela, exigente, desbocada, pequenininha, sensível e firme ao mesmo tempo. Mas nos últimos anos, tenho descoberto que tenho muitas características do meu pai que até então nem imaginava que tinha e, mais ainda, que aquelas que eu não tenho, eu queria muito desenvolver em mim. Isso significa que nos últimos anos tenho aprendido a admirar ainda mais meu pai.

Seu Bira faz hoje 60 anos e, com orgulho, eu digo que nos 29 anos que eu participei dessa trajetória não me lembro dele levantando a voz para alguém. Também não me lembro de ouvi-lo dizer que odeia uma pessoa. Tirando que a gente NUNCA fecha a coca cola direito, não me lembro de ele fazer grandes reclamações da vida. Aliás, ele passou 4 meses numa cadeira de rodas devido a um acidente e eu não lembro dele reclamando. Acho que em alguns momentos eu pensava que ele podia reagir mais, falar mais, reclamar mais (talvez porque eu faça tudo isso). Mas hoje, quase nos meus 30 anos (falta um ano ainda), tenho procurado aprender com ele que muitas vezes é preciso falar menos, e que reagir nem sempre significa brigar e falar alto. Meu pai reage com serenidade, com sabedoria, com tranquilidade, com paciência. O coração dele é tão bom, tão cheio de luz e de caridade que eu às vezes não consigo acompanhar tamanha grandiosidade, mas consigo sim admirar!

É por isso, pai, que você merece os parabéns, não só por ter nascido, mas por ser quem você é. Não tenho dúvidas de que há 60 anos o mundo passou a ficar melhor, mais generoso, menos raivoso. Você merece parabéns porque pessoas como você são uma raridade e uma benção. Você merece parabéns pela paciência constante mesmo diante de tantos fatos tristes que você teve que passar na sua vida. Você merece parabéns por saber olhar para o que as pessoas e o mundo têm de bom, e por saber sorrir mesmo diante de momentos difíceis. Você merece os parabéns pelo filho, irmão, amigo, marido, pai e avó que você sempre foi. Você merece parabéns pelo ser humano que é.

Não estou falando de um exemplo de perfeição, até porque ela não é algo possível para nós. Mas estou falando de um exemplo de evolução e de uma pessoa que se tornou pra mim o homem mais incrível do mundo.

Sinta meu beijo, meu abraço e meu amor, afinal, os meus pensamentos hoje atravessaram o oceano.

"Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois que é a alma quem pensa" (Allan Kardec - O livro do Espíritos)


Feliz Aniversário! E espero ver você usando essa camisa aqui comigo em Oslo pra gente tomar uma cerveja norueguesa :)


Monday, September 19, 2011

Dos 28....aos 29

Semana passada, mais especificamente dia 14 de setembro, eu conclui e comecei uma nova travessia. Fechei um ano e comecei um novo. Eu sou daquelas que adora a travessia dos aniversários. Pra mim cada aniversário tem de fato a simbologia de um (re)nascimento. É dia de celebrar a vida e de agradecer pelas conquistas daquele ano. Acho aniversário meio como ano novo, só que é um ano novo individual. Todo 14 de setembro eu comemoro minha virada de ano particular.

Esse ano, a virada foi bem diferente de todas que eu já vivi. Pela primeira vez atravessei para a nova idade longe do meu país, longe dos meus pais, da minha irmã e da maior parte dos meu amigos. Foi meu primeiro aniversário na Noruega. Meu primeiro aniversário na minha primeira casa junto com Léo. Com tanto pioneirismo, não tinha como o aniversário não ser, no mínimo, interessante. Mas o pioneirismo também assusta e causa um certo estranhamento, e acho que foi por isso que acordei, no dia 14 de setembro, ainda com a sensação de que não era meu aniversário.

Mas o estranhamento e a nostalgia começaram a se transformar em grandes surpresas. Depois de alguns dias de muita chuva em Oslo, 14 de setembro começou com um lindo dia de Sol: Luz, renascimento, vida. E não é a luz que faz a gente olhar melhor os detalhes de uma situação? Pois então tentei amenizar a saudade pensando em como, literalmente, a nova idade chegava em um momento iluminado da minha vida, a começar por poder comemorar ao lado de Léo, já que há dois anos eu não passava meu aniversário com ele. E tenho que confessar que ele caprichou nesse! Começamos com um delicioso café da manhã, preparado por ele, e um presente bastante significativo para o momento: um quadro com uma foto nossa para colocarmos na nossa casa. A foto foi tirada em Minas nas nossas férias de julho e é uma foto bem viajada! A gente gosta de uma viagem e de inovar! Olha a foto do quadro aí:



Bom, como meu aniversário não caiu num sábado ou domingo, fui pra Universidade, mas confesso que o dia não foi muito produtivo em termos de trabalho. Exigente que eu sou, comecei a ficar agoniada porque não conseguia me concentrar. Ficava mais agoniada porque o dia estava lindo e eu queria era ir pra rua. E aí, no meio de toda essa agonia, recebo um e mail de uma tia de léo (Ângela) com uma reflexão interessante:


"Pelo menos hoje,
só faça o que lhe der prazer,
o que lhe "der na telha".
Curta bem o seu dia: faça dele um feriado nacional! 
Afinal, 14 de setembro só tem uma vez no ano".

Foi uma Luz! Era tudo que eu precisava ler pra relaxar e curtir o meu dia! E aí, minha colega de doutorado dinamarquesa, Bettina, me convidou para um almoço de aniversário e tivemos ótimas conversas juntas. Bettina tem sido uma pessoa essencial no meu processo de adaptação. Uma pessoa simpática e sempre disponível em me ajudar. Nesse dia, pude sentir ainda mais como estamos construindo uma ótima relação. E a Luz surgiu de novo: eu estou longe de tanta gente, mas não estou sozinha aqui. Estou fazendo amigos e construindo uma rotina nova e interessante. Um registro do meu almoço com Bettina:



Bom, mas já que era "feriado" pra mim, fui aproveitar meu dia com minhas amigas brasileiras Sandra e Lorena. No início, a ideia era tomar um café, programa bem típico aqui na Noruega, mas o dia estava convidativo para um bom vinho ao Sol. Acho ótima essa ideia de tomar vinho esparramada ao Sol. Quem pega um inverno brabo, sabe bem como essa simples ação é uma delícia. E foi realmente muito bom, ainda mais com a companhia de duas pessoas que tem sido importantes pra mim aqui em Oslo. Luz de novo: eu tenho amigas aqui! Quer maior presente de aniversário? Aí estão algumas imagens da nossa tarde de aniversário em um dia lindo de sol em terras nórdicas:





Léo saiu do trabalho mais cedo pra aproveitar o dia comigo e compartilhou um pouco do nosso momento "vinho ao sol":



Nossa programação era jantar em algum lugar depois. Eu ainda não sabia em qual restaurante, mas ele já tinha preparado uma surpresa: fez uma reserva num lugar especial e não disse onde era. E aí, sem saber pra onde eu estava indo, eu andei, peguei ônibus, peguei barco pra chegar num restaurante em Bygdoy, uma praia de Oslo que fica no meio de alguns fjordes pequenos (depois faço um post sobre os fjordes). O cenário era um espetáculo. As imagens falam por si só:


As imagens praticamente dispensam comentários, mas eu preciso dizer que Léo foi um dos grandes responsáveis por tranformar um aniversário que tinha tudo pra ser nostálgico num aniversário de ótimos momentos. 

A saudade do Brasil? Continuava imensa. Sentia falta de tantos abraços, de tantos beijos, de tantas vozes. Mas o Brasil veio até a Noruega por meio de várias mensagens no facebook, e mails, ligações da família (pai, mãe, irmã) e de alguns amigos (valeu Mel, May e Ju), e de um parabéns ao vivo via skype do meu grupo de pesquisa querido no Brasil. Um grupo de amigos e de companheiros de trabalho que são uma fonte de inspiração pra mim. O parabéns foi registrado por Léo:


E o dia terminou com os parabéns da mãe e do pai, os "culpados" por esse dia. Os responsáveis pelo maior presente que eu tenho: minha vida. E uma vida de muito amor e de muitas alegrias. Minha maior saudade foi deles, mas o amor é tão incondicional que eu consegui senti-los bem perto de mim.

Pela saudade da minha família, do meu país e de tantos amigos, não posso dizer que meu aniversário foi perfeito. Mas também acho que nunca foi, pois sempre tem a falta de alguém, afinal, aos 29 anos boa parte dos nossos amigos e família encontram-se espalhados pelo mundo. Mas apesar dessa falta, praticamente inevitável, eu tive um dia muito feliz e de muitas certezas: certeza que tenho um companheiro incrível ao meu lado, certeza de que estou construindo amizades fortes aqui na Noruega, certeza que os amigos de verdade se fazem presente mesmo à distância, certeza de que minha família continua sendo meu maior porto seguro. 

Tem como ficar triste com tudo isso? Só tenho a agradecer por tanta Luz...e que ela continue comigo na travessia até os 30....


Tuesday, September 13, 2011

Do Brasil....para a Noruega

Quando as pessoas me perguntam o que estou fazendo na Noruega, e eu digo que estou fazendo meu doutorado, a resposta mais comum é: que chique! É, de certa forma, é chique, mas nos bastidores, poucos sabem a luta que foi pra esse doutorado sair. Entre a decisão de querer fazer o doutorado fora do país e o dia em que recebi a notícia do "sim, você conseguiu", a travessia foi árdua e muitos "nãos" foram escutados e chorados.

Esse post será pra compartilhar um pouco a primeira grande travessia que eu precisei fazer rumo ao meu Doutorado: a decisão de estudar fora e, mais especificamente, na Noruega. Sim, o ato de decidir é por si só uma travessia imensa e misteriosa.

Desde o meu mestrado, quando eu já tinha uma forte identificação com a área acadêmica, e já estava em análise há um certo tempo, eu comecei a ter clareza do meu desejo de ter essa experiência fora do país. Mas, por que? Não tem doutorado bom no Brasil na minha área de pesquisa (psicologia do desenvolvimento)? Pelo contrário, temos muitos grupos de pesquisa consolidados, a começar pelo que eu faço parte (continuo fazendo parte mesmo estando aqui em Oslo), o Labint, na UFPE. O Brasil, nos últimos tempos, tem avançado muito nessa área, e não foi por falta de opção de grupos de pesquisa bons no país que eu decidi estudar fora. Também não foi porque eu não gosto do Brasil. Sou brasileira com orgulho e carrego comigo as raízes de uma cultura forte e contagiante.

É difícil tentar resumir o que me levou a essa decisão, afinal, grandes decisões, na maioria das vezes, estão baseadas em um grande número de fatores. Mas tentando sintetizar, eu queria conhecer o diferente. E esse desejo pelo diferente é em grande parte fruto da minha experiência na graduação. Além da Psicologia nos estimular a pensar sobre a diferença que nos constitui, minha turma foi um exemplo de pluralidade. Mais ainda, um exemplo que é na diversidade que crescemos. Não foi à toa o nome que selou nossa graduação: "O Igual da Diferença. Cada um, todo ser tem sua crença" (Lenine). A convivência com Léo, que começou exatamente na época do meu mestrado, só fez reforçar esse desejo. Quem conhece ele sabe: cidadão do mundo, louco por viagem, louco pela novidade e corajoso pra encarar e viver a diferença.

Acho que por isso, eu não queria que a diferença fosse só no âmbito profissional, mas também no plano cultural. Queria o novo, que com certeza seria melhor que o Brasil em alguns aspectos e piores em outros. Queria a diferença. Queria ir pra um lugar que me deixasse mais fluente no inglês e que eu pudesse ter a vivência de hábitos de vida mais diferentes e, principalmente, mais saudáveis. A Europa sempre foi o continente que mais me interessou: pela variedade cultural, por uma postura ativa em questões sociais e pelo estilo de vida mais equilibrado, que busca conciliar  trabalho e vida pessoal (isso é assunto pra outro post).

Ok, mas por que a Noruega? Parando pra pensar agora, vejo que nessa decisão eu já comecei a buscar um equilíbrio entre o profissional e pessoal. De início, meu interesse era pela Alemanha. Mais especificamente pelo Instituto de Pesquisa Max Planck (http://www.eva.mpg.de/), que vem inspirando as pesquisas que tenho realizado no Brasil. Porém, Léo, que também tinha o interesse em morar um tempo fora do país (óbvio!), foi selecionado para uma vaga na Nokia em Oslo. E aí, eu comecei a procurar por oportunidades na Noruega, numa tentativa de atender meu desejo de fazer meu Doutorado na Europa e meu desejo de ficar junto de Léo.

Acho que esse processo de decidir pela Noruega e focar em possibilidades concretas aqui foi o primeiro grande passo de um longo percurso. Hoje, tenho a certeza que foi a melhor decisão. Não estou aqui apenas pra acompanhar Léo e não estou aqui apenas pelo Doutorado. Já na decisão, comecei a vivenciar o quanto é bom o tal do equilíbrio. E às vezes, para alcançá-lo, é precisor abrir mão de algumas coisas. O aprendizado está em perceber que, a cada decisão em que precisamos abrir mão de uma primeira opção, nossas mãos ficam livres pra receber um tanto de outras oportunidades...é só ficar atento durante a travessia....Que continua nos próximos posts...


Monday, September 5, 2011

Do início...da travessia...

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos" Fernando Pessoa.

O primeiro post desse blog tinha que começar com essas palavras de Fernando Pessoa. Palavras que li numa agência de viagem quando estava comprando minha passagem para a Noruega. Uma passagem tão sonhada, tão desejada, tão lutada. Passagem de viagem. Passagem de mudança. Passagem de travessia. Ao atravessar o oceano, eu estaria dando início a uma nova vida para realizar um antigo sonho. Mas não era "só" o oceano que eu tinha que atravessar. A travessia mais dura, e ao mesmo tempo mais prazerosa, é a travessia de sair da zona de conforto e ir em busca do novo: casa nova, trabalho novo, língua nova, cidade nova, país novo, vida nova! É tudo muito lindo e poético se olharmos apenas pro ponto final: morar na Europa e conseguir o título de doutora em Psicologia. Mas não é lá no ponto final que as coisas acontecem; elas acontecem na travessia, e esta não é fácil, embora (ou talvez por isso mesmo) seja igualmente (ou mais) poética que a chegada!

Quando li a frase de Fernando Pessoa senti que tinha acabado de resolver o problema que estava discutindo com minha amiga Patrícia Castro: o nome do meu blog. Afinal, esse será um espaço para relatar e compartilhar muitas das travessias que realizei, estou realizando e irei realizar. Um espaço sobre a minha vivência na Noruega: estudo, amor, descobertas, farras, desafios, dificuldades, curiosidades culturais, desabafos. Travessias e travessuras em terras nórdicas. Porque é realmente no meio do caminho que as coisas acontecem...

Esse primeiro post é dedicado a Cintia Anira e Marina Vilar que, ao viverem a experiência de morar fora do país, me incentivaram a começar um blog. Valeu o incentivo. Já estou começando a gostar :)